Henrique Neto e Marcelo Rebelo de Sousa debateram esta noite na SIC Notícias e tardou até que os dois candidatos à Presidência da República saissem do plano pessoal e passassem às propostas que querem ver sufragadas no dia 24. O ataque mais forte saiu do ex-deputado do PS, que acusou o ex-líder do PSD de não ter tido "coragem" para aproveitar os anos em que fez comentário político na televisão para denunciar os problemas do país.
"Lamento que Marcelo não tenha tido a coragem de denunciar tudo o que aconteceu no país nos últimos anos. Se tivesse aproveitado o tempo de antena que teve e que lhe permitiu estar agora onde está, em vez dos fait divers, das quezílias, dos pequenos comentários da atividade política diária, acredito que podia ter mudado o destino do país", disparou Neto.
Neto, o primeiro candidato a entrar na corrida a Belém, justificou ainda a sua candidatura com a necessidade de "evitar que mais uma vez chegue ao poder político em Portugal alguém que não tenha condições para ser um bom Presidente da República. E para que os portugueses pensem, comparem a história de cada candidato e vejam quem são os candidatos melhores preparados". O guião do empresário na terceira noite de debates presidenciais, e com Marcelo Rebelo de Sousa pela frente, foi claro: colar o ex-líder do PSD ao "sistema político" que diz ser responsável pela degradação das condições de vida em Portugal nas últimas décadas.
Mas Marcelo Rebelo de Sousa tirou partido da estratégia do seu adversário, com quem lidou de perto nos corredores da Assembleia da República. Desde logo para lembrar a sua herança como líder do PSD, nomeadamente a viabilização de três Orçamentos de Estado de António Guterres, a revisão constitucional de 1997, da sua iniciativa, que reduziu o número de deputados no parlamento, e a alteração à lei eleitoral autárquica, que fixou a limitação dos mandatos dos autarcas. Henrique Neto, numa insinuação que deixou Marcelo irritado, sugeriu que o ex-líder do PSD só viabilizou os orçamentos porque teve como contrapartida o apoio de Guterres para o referendo à Interrução Voluntária da Gravidez.
Sobre a acusação de não ter tido "coragem para denunciar os problemas do país", Marcelo lembrou que por duas vezes foi afastado da televisão, primeiro por Santana Lopes, no período em que era primeiro-ministro, e depois por José Sócrates, até para provar a sua independência e para reiterar que é um candidato "livre". E arrumou o assunto: "O poder da comunicação social é muito grande mas não chega para poder substituir o governo", atirou Marcelo, que corre com o apoio do PSD e do CDS. "As pessoas conhecem-me. Sou escrutinado há 40 ou 50 anos".
Se forem eleitos para Belém, Neto diz estar preparado para uma crise política. O candidato da área do PS discorda das opções de António Costa em matéria de devolução de rendimentos aos portugueses, pedindo cautela, e lembrou que foi um critico de primeira hora da política expansionista de José Sócrates, o ex-primeiro-ministro socialista. Marcelo, por seu lado, subscreveu as opções de António Costa no que respeita às "medidas sociais de reparação" da austeridade da última legislatura. "Não sei se Costa está a seguir um bom caminho. Costa esta a seguir um caminho que é essencial", afirmou.
Em resposta à pergunta se está ou não preparado para uma crise política, se for eleito, o candidato da área do PSD e do CDS admitu que se chegar a Belém vai insistir nas pontes entre governo e oposição. "Não escondo que me preocupa muito a divisão do país em dois, a crispação que se vive hoje em Portugal. O papel do Presidente da República no início do seu mandato vai passar muito por aí. Não chega um desígnio nacional sem recuperar pontes, sarar feridas", clarificou.