Suponho que ninguém se importará de ter agora em Belém uma figura do velho PSD social-democrata (como ninguém se importou de ter Mário Soares). E que todos desejam a sua chegada lá rapidamente, e se aquietam com a ideia de que já nada importa o atual inquilino daquele Palácio. O Presidente Cavaco, contrariando a cultura (há quem diga que isso se deve à sua formação demasiado técnica e pouco generalista, por não ter passado pelo Liceu) e a Filosofia, homem cheio de certezas (em que os mais inteligentes e cultos, desde a antiguidade grega pelo menos, nunca caem), conseguiu fazer durar a crispação muito mais do que o País estava disposto a aguentar (até com a sua escusada viagem à Madeira, antes de solucionar o problema premente do Governo), dando gás às atitudes pouco democráticas, ou pouco parlamentaristas, de Passos e Portas (pessoas que ele não apreciara claramente tempos atrás).
De tal maneira, que hoje toda a gente espera pacificamente Marcelo, com maior ou menor militantismo. Até o PSD, que o parecia ter abandonado, ao adotar Passos Coelho, afinal é dele que gosta mais. Mesmo com ele a recusar Passos na sua campanha. Claro está que não precisamos de ouvir ou ver os debates eleitorais, apesar de a imprensa muito nos puxar para lá (talvez pela sua responsabilidade neste modelo cansativo, sobretudo numas eleições em que não se esperam surpresas).
Até Rui Rio, inventado em tempos por Marcelo (que o lançou na política como seu secretário-geral, quando foi líder do PSD), não morrendo certamente de amores pessoais pela figura (nem vice-versa), parece estar mais na sua linha política.
A única impaciência que hoje noto é pela eleição e posse de Marcelo – que parecem tardar demasiado, mesmo dadas como seguras, relativamente às serenas expectativas nacionais. Desenganem-se os que interpretam a falta de tensão nestas presidenciais como um desinteresse por elas; estão todos desejosos de que cheguem – mas realmente sem tensões nem crispações.