1.Desde segunda-feira que Sampaio da Nóvoa, e os seus consultores políticos e de imagem, preparam a estratégia para o debate de hoje contra o Marcelo Rebelo de Sousa. Isto porque a candidatura de Sampaio da Nóvoa considera o confronto televisivo de hoje como a última oportunidade para forçar uma segunda volta: há a percepção generalizada de que o desempenho de Nóvoa nos debates já realizados tem ficado aquém das expectativas, mantendo o candidato um perfil demasiado contido. A opinião geral é a de que Sampaio da Nóvoa perdeu mesmo o debate contra Henrique Neto: está, pois, a ficar demasiado tarde para Nóvoa se impor como um candidato forte e credível.
2.É que, até a este momento, Sampaio da Nóvoa tem optado por um estilo conciliatório, não agressivo, de amizade fraternal nos debates, já antevendo uma segunda volta. Momento em que irá apelar ao apoio dos restantes candidatos: logo, não pode criar fricções contra os mesmos nesta fase. O problema é que esta estratégia de passividade só poderia ser qualificada como sensata, caso o cenário de segunda volta fosse provável. E hoje não o é, muito por culpa da campanha mal pensada e do discurso poético, mas vazio de conteúdo, de Sampaio da Nóvoa.
3.Pela necessidade vital de dramatização política que Sampaio da Nóvoa sente, o candidato e a sua equipa vão optar por seguir uma estratégia de ataque a Marcelo Rebelo de Sousa. Ataque político e ataque pessoal. Sampaio da Nóvoa irá trazer à colação o passado de Marcelo Rebelo de Sousa, ainda estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, antes da instauração da democracia. Imitando Henrique Neto (deve ser um trauma pela derrota no debate televisivo: quer ultrapassá-lo agora em radicalismo e populismo!), Sampaio da Nóvoa irá, muito provavelmente e segundo apurámos junto de fonte bem informada, levar para o centro da discussão a famosa carta de Rebelo de Sousa dirigida a Marcello Caetano.
4.Isto para quê? Fácil: para afirmar que Marcelo Rebelo de Sousa teve dúvidas e hesitações quanto à liberdade e a democracia – enquanto ele, Sampaio da Nóvoa, nunca teve dúvidas. Só teve certezas – e escolheu evidentemente, a liberdade! (sim, acaba a frase com um ponto de exclamação – ele quer ser o Presidente-Poeta…). E quem esteve no passado do lado da ditadura – não pode estar do lado da liberdade. É uma sugestão de Vasco Lourenço (da Associação 25 de Abril) que Sampaio da Nóvoa aceitou: o desespero tolda o pensamento e a racionalidade das pessoas.
Não deixa de ser ridículo que, volvidos mais de quarenta anos, haja candidatos como Sampaio da Nóvoa, ainda dependentes das vontades políticas de Vasco Lourenço – e que, num país à procura de futuro, só pensam em ajustar contas com o passado. Com o seu passado. O evocar o anti-fascismo e a luta contra o regime autoritário como temas principais de uma candidatura presidencial só pode ser explicado com a vontade de Sampaio da Nóvoa em fugir, ou reduzir ao mínimo conhecimento, do seu passado como membro da LUAR (Liga de Unidade de Acção Revolucionária). É que, em 1976, António Sampaio da Nóvoa estava do lado errado da história – o agora candidato presidencial era contra a Constituição democrática; era contra uma democracia de tipo ocidental; defendia a luta armada para instaurar uma ditadura popular; era contra a propriedade privada e os direitos individuais que qualificava como “liberais”, próprios do individualismo capitalista.
5.Estas são as informações que temos: o percurso político de Sampaio da Nóvoa desde 1975 até 2013 é completamente desconhecido dos portugueses. E o candidato – que fez publicar três (pasme-se!) biografias sobre si, desde que anunciou a sua candidatura, sem que nenhuma desenvolva o percurso político de Nóvoa, explicando apenas como Sampaio Nóvoa escreveu as suas duas teses de doutoramento – não se faz apresentar aos portugueses.
5.1.Com que autoridade moral pode Sampaio da Nóvoa lançar suspeitas sobre a insuficiência democrática retroactiva de Marcelo Rebelo de Sousa – quando nenhum português sabe o que defendia o Sampaio da Nóvoa, membro da LUAR, nos tempos conturbados do “Verão Quente”? E que, nos escassos dados políticos que as três biografias apresentam, fica-se com a sensação que Sampaio da Nóvoa nutre uma certa admiração pela personagem política de Vasco Gonçalves. O Primeiro-Ministro do PREC, da Reforma Agrária, das nacionalizações. Diogo Freitas do Amaral, em entrevista muito lúcida à TVI 24, confessou ter ficado com a mesma sensação que nós.
6. Ora, Marcelo Rebelo de Sousa tem um percurso que todos os portugueses conhecem há décadas. No mesmo livro em que a tal carta é publicada é referido que Marcello Caetano ficara furioso com o “atrevimento” de Marcelo Rebelo de Sousa que, nas páginas de dois jornais, criticava a política de Caetano. E foi objecto, por diversas ocasiões, da censura do regime de Marcello Caetano as suas crónicas no EXPRESSO. É, pois, um erro político enorme de Sampaio da Nóvoa seguir esta via.
7.Por outro lado, Sampaio da Nóvoa irá invocar o vídeo do Bloco de Esquerda em que se invocam pretensas contradições de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a constitucionalidade de medidas constantes do Orçamento de Estado para 2012. Objectivo: dar a imagem de que Marcelo Rebelo de Sousa não é claro. É dúbio e dissimulado, com uma colecção de contradições. E Nóvoa quer trazer à baila novamente a tese da hiperactividade, da energia excessiva de Rebelo de Sousa.
8.Problemas do país? Como definir um futuro para Portugal em que todos se sintam incluídos? Como trabalhar para o aprofundamento da nossa democracia? Nada. Sampaio da Nóvoa está convicto de que, para tirar espaço à candidatura de Maria de Belém e forçar segunda volta, tem que radicalizar o discurso. Atacar o candidato Marcelo Rebelo de Sousa pessoalmente – e não apenas a sua candidatura.
9. Enfim, nós portugueses, só pedimos o seguinte: deixem, de uma vez por todas, de discutir quem é a “Miss Anti-Fascista” do regime. Que diabo: passaram quarenta anos! Já tivemos regastes financeiros, já tivemos a troika mais vezes do que seria compreensível, já sofremos, já passamos de país de imigração para país de emigração de novo na nossa história – e a discussão dos políticos (neste caso, de Sampaio da Nóvoa) é sempre a mesma. Não há pachorra.
10. Uma última nota para dizer que é deveras curioso que Sampaio da Nóvoa, teoricamente a candidatura mais forte da extrema-esquerda e do extremo-PS, é condicionado, na sua estratégia, pelo PCP e pelo BE – e não o contrário, como seria expectável. Isto é: Sampaio da Nóvoa anda a “reboque” dos argumentos utilizados por comunistas e bloquistas, ficando preso à argumentação destes dois partidos. O natural seria o contrário: o candidato com mais pese, em teoria, condicionar a estratégia dos candidatos da mesma área com menos peso…
P.S – A candidatura de Sampaio da Nóvoa gosta muito da liberdade e das liberdades. No entanto, foi a única candidatura que apresentou uma queixa (através de uma das suas apoiantes) contra um jornalista por fazer….perguntas incómodas. Como?