Porquê? Porque o seu exemplo máximo de “homem novo” do “tempo novo”, o Primeiro-Ministro, António Costa beneficiou de elevados índices de popularidade devido ao seu percurso como comentador político (os quais lhe permitiram chegar ao Governo de José Sócrates, depois tornar-se Presidente da Câmara de Lisboa, agora Primeiro-Ministro) na Quadratura do Círculo, na SIC Notícias. Com esta singularidade: António Costa era político e comentador político. Ao mesmo tempo! Acumulava as duas funções, de Presidente da Câmara de Lisboa com a de comentador político na SIC Notícias! E a elite, os comentadores que hoje consideram um escândalo haver um candidato presidencial que foi comentador na TVI, ficou incomodada na altura? Não: todos acharam normal esta singularidade de um político em exercício de funções ser, ao mesmo tempo, comentador televisivo. Isso não afectou a credibilidade do candidato, nem a credibilidade do cargo político que é a presidência de Câmara – como era António Costa, para a nossa elite, era perfeitamente normal e aceitável.
E Sampaio da Nóvoa não ficou inibido de considerar António Costa o seu “homem novo” por ser comentador político ao mesmo tempo que geria a cidade de Lisboa, confundindo, não poucas vezes, as duas funções. Agora, o que é verdadeiramente singular é que António Costa seja Primeiro-Ministro e seja convidado, pela SIC Notícias, para ocupar, ainda que por uma noite, o papel de comentador político. Ou seja: a democracia portuguesa acaba de ficar ainda mais prestigiada – um Primeiro-Ministro comentador. É mais uma originalidade portuguesa: quantas vezes Passos Coelho foi convidado para a “Quadratura do Círculo” para ser comentador por uma noite? Quantas? Dir-se-á que António Costa foi comentador residente. Certo, mas foi comentador – já não é comentador. Agora é Primeiro-Ministro. E um Primeiro-Ministro não pode se comentador.
Pacheco Pereira, na véspera, afirmara que Marcelo não pode ser Presidente da República porque é do Sporting de Braga. Hoje, António Costa é o Primeiro-Ministro comentador – e assumindo a postura de comentador. Assim, a “Quadratura do Círculo” , um programa que outrora era respeitado e respeitável, corre o risco de se transformar num acto e propaganda – ou numa palhaçada. É pena…
P.S – Não gostei de ver António José Teixeira, um jornalista de esquerda, apoiante subtil de Sampaio da Nóvoa, esboçar sorrisos, em debate na RTP 3, quando o director do Observador elogiou a postura de Vitorino Silva nesta campanha. Pelo facto de trazer o povo profundo para o centro da política. Não é bonito atendendo à igual dignidade de todos os cidadãos e, logo, de todos os candidatos – e mostra bem a relação da esquerda caviar com o povo e com a igualdade de que tanto gostam de falar…Falam, falam sobre igualdade – mas não a praticam…