Maria de Belém ao ataque. Nóvoa à defesa no dia em que o líder parlamentar do PS, Carlos César, anunciou o seu voto no ex-reitor da Universidade de Lisboa. Horas antes do debate, António Costa, secretário-geral do PS, apelou ao voto nos dois candidatos da área do partido. "A primeira volta deve ser as primárias da esquerda", disse. Belém aproveitou a deixa em dia de confronto televisivo com Nóvoa para lembrar que milita há 40 anos no PS e chamar até si o direito de receber o apoio dos socialistas. E o professor? "É independente", ironizou.
A ex-ministra da Saúde por diversas vezes atirou Sampaio da Nóvoa para a esquerda radical e garantiu que foi desafiada por militantes socialistas a avançar porque consideravam que a candidatura de Nóvoa "é de frente de esquerda, que não cobria o centro esquerda, a esquerda moderada". O professor, na resposta, segurou-se no apoio de Ramalho Eanes. "Calcula-se o extremismo que representa Ramalho Eanes. Ainda hoje estive com ele".
Mas a estratégia de Belém era clara: esvaziar de sentido a candidatura de Sampaio da Nóvoa. A socialista acusou o seu adversário de ter ficado sem espaço para a sua candidatura depois do avanço de Edgar Silva, com o apoio do PCP, e de Marisa Matias, com o apoio do BE. Para Maria de Belém, a candidatura de Nóvoa está "amputada como candidatura de frente de esquerda". E acrescentou: "Eu e Nóvoa situamo-nos em campos diferentes".
Nóvoa clarificou que o seu adversário é Marcelo Rebelo de Sousa, obrigando Maria de Belém a afirmar o seu adversário, que também é o ex-comentador que corre com o apoio do PSD e do CDS. Mas não tardou até que a ex-presidente do PS voltasse a falar para os socialistas e para o centro. Belém não compreende como é que Nóvoa repete que protagoniza uma candidatura "independnete" e contra "os mesmos de sempre" quando tem o apoio de três ex-Presidentes da República, dois deles militantes do PS. Sampaio da Nóvoa respondeu com "orgulho" no apoio de Mário Soares e Jorge Sampaio e sublinhou que a candidatura de Belém "surge num tempo de incómido e de devisão do PS. De incómodo com este novo tempo".
"Acertar no totobola à segunda-feira é fácil"
Nóvoa referia-se à hesitação de Maria de Belém em apoiar a solução que António Costa negociou com os partidos à sua esquerda para formar uma maioria no Parlamento e derrotar a coligação de direita que venceu as eleições. O candidato considera que Maria de Belém foi "hesitante", "não percebeu o novo tempo" e só saiu em apoio de Costa depois deste ter firmado acordos com BE, PCP e PEV para derrotar a aliança PSD/CDS, acusando ainda Belém de ter começado por defender a viabilização do governo de direita com a abstenção do PS. "Acertar no totobola à segunda-feira é fácil", atirou.
"O Presidente da República tem que ser uma pessoa com princípios muito claros, causas muito claras. As pessoas têm que sentir no Presidente da República alguém que tem ideias. E que defenda as suas ideias de uma forma clara", disse ainda Sampaio da Nóvoa. A adversária rejeitou a acausão e lembrou que notou várias vezes que o Cavaco Silva estava a "adiar o inadiável" até dar posse a um governo de esquerda liderado por Costa.
Questionados por Judite Sousa, moderadora do debate emitido esta noite na TVI, sobre o que fariam para evitar uma crise política, Sampaio da Nóvoa recusa antecipar o que fará em determinadas situações, embora nas entrelinhas deixei a garantia de que não irá dissolver este Parlamento de maioria de esquerda, sublinhando que "um PR tem de estar comprometido com um governo de maioria parlamentar, seja ele qual for. Tem de coorperar e tem de fazer tudo o que estiver ao seu alcance a bem dos portugueses. Não vamos nesse momento andar a traçar cenários".
Belém, em resposta à mesma pergunta, quase alinha na mesma diapasão. "O país precisa de estabilidade política. Considero absolutamente essencial que o PR invista na estabilidade, prevendo situações de potencial compromisso. O PR deve ser alguém que tem influência mas não interferência", clarificou a candidata, depois de Sampaio da Nóvoa ter sublinhado que quer ser um Presidente da República "presente", que não se fica por uma "sistemática ausência, omissão e silêncio".