Maria de Belém derrotou Sampaio da Nóvoa

O debate realizado ontem, na TVI, entre Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa mostrou  algo que se torna cada vez mais evidente: a realização de uma segunda volta torna-se cada vez mais inverosímil. Isto porque os portugueses não vão premiar a incompetência gritante dos dois candidatos: tiveram tantos meses para alinhar uma estratégia coerente,…

Em vez disso, quer Maria de Belém, quer Sampaio da Nóvoa apresentaram uma campanha paupérrima, com uma estratégia oscilante e, muitas vezes, obtusa. Foram sempre a reboque de Marcelo Rebelo de Sousa – em vez de seguirem um guião próprio, causas próprias e um discurso que coincidisse com as aspirações e esperanças dos portugueses.

O interesse na disputa entre Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém resume-se a saber quem ficará, nas páginas da nossa História, como o responsável pela divisão do eleitorado de esquerda. Se Maria de Belém ficar em segundo lugar, o culpado será Sampaio da Nóvoa e António Costa;

Os apoiantes de Maria de Belém, após debate de ontem, com Marcelo Rebelo de Sousa desanimaram. Já estão muito descrentes na realização de uma segunda volta, como é possível inferir pelos comentários de alguns deles (e ilustres) em jornais ou nas respectivas páginas das redes sociais. O debate contra Marcelo Rebelo de Sousa era a grande oportunidade de viragem: todavia, Marcelo Rebelo de Sousa revelou-se melhor do que a encomenda e venceu ambos os debates. Para uns, Marcelo esteve melhor no debate com Maria de Belém; para outros, esteve melhor no debate contra Sampaio da Nóvoa – em qualquer caso, Marcelo superou os seus adversários. O saldo dos debates – por exemplo, Jorge Sampaio acreditava que Marcelo Rebelo de Sousa iria perder o debate com Nóvoa e, a partir daí, Nóvoa subiria incrivelmente, como aconteceu nas autárquicas de 1989: Jorge Sampaio encontrou, no entanto, um Marcelo completamente diferente – é muito positivo para Marcelo Rebelo de Sousa.

Dito isto, quanto ao debate, temos que Maria de Belém começou bem ao colar António Sampaio da Nóvoa à extrema-esquerda e à facção mais extremista do PS; António da Nóvoa, de seguida, equilibrou o debate, ao indicar as incoerências e realidades estranhas da candidatura de Maria de Belém; Maria de Belém deslocou novamente na parte final do debate, ao mostrar a enorme incoerência e oportunismo de Sampaio da Nóvoa. Afinal, o homem do “tempo novo” foi um crítico feroz do Ministro da Ciência de António Costa e Mestre do actual Ministro da Ciência!

E, neste aspecto, Maria de Belém tocou no ponto fraco de Sampaio da Nóvoa: é que o seu discurso é completamente vácuo. Mas, afinal, o que é o “tempo novo”? É o Governo de António Costa? Então, se o “tempo novo” é uma questão de pessoas, de Ministros, e do prazer que é ter António Costa como Ministro – porque razão o Reitor António Sampaio da Nóvoa criticou tão ferozmente a política do actual Ministro da Ciência, que, na altura, era Secretário de Estado de Mariano Gago? Afinal, o “tempo novo”?

Com efeito, ficamos perplexos como é que os jornalistas não confrontam António Sampaio da Nóvoa com um facto elementar: “tempo novo” é ser um Presidente à mercê de António Costa? “ Tempo novo” significa criticar e repudiar o passado do Partido Socialista? Toda a história do PS? Uma parte da história? Por outro lado, Maria de Belém confrontou – muito bem! – Sampaio da Nóvoa com a circunstância de Nóvoa dizer que é uma candidatura independente, apesar de estar constantemente a evocar o apoio de três ex-Presidentes, dois deles militantes do PS.

No conteúdo, Sampaio da Nóvoa, exceptuando as alusões ao “tempo novo”, não diz nada. Apenas leva uns recortes de jornais – cuidadosamente recolhidos pela sua gigante máquina milionária, dispondo de cerca de dez assessores apenas para preparar os debates – com citações dos outros adversários para os atacar. Recorrendo, vezes demais, à mentira e à desonestidade política.

Já na forma, Maria de Belém tem um estilo mais simpático, mais pausado, com uma dicção, por vezes, inadequada para a televisão e, sobretudo, para este formato de debate televisivo, em que mensagem tem de ser passada de forma rápida e curta. Sampaio da Nóvoa, por seu turno, disfarça bem, com as suas tiradas poéticas, a sua vacuidade de conteúdo. O que se compreende: Sampaio da Nóvoa é um professor de actores (tem um doutoramento em Expressão Dramática, ou seja, teatro), pelo que tem muita técnica e engenho na arte de “fingir/fingir tão completamente/ que chega a fingir que é politicamente moderado”. Veja bem, caro leitor: até nós, já estamos com um estilo à Sampaio da Nóvoa – sempre com citações…

Na aparência, Sampaio da Nóvoa ganhou o debate – porque é mais agressivo, parte para o ataque com tiques retóricos e palavras bonitas. Todavia, é puro fogo de vista: quem analisar o debate ao detalhe, dará facilmente uma vitória muito tangencial a Belém. Pessoas conhecidas subscreveram a minha posição de um debate muito equilibrado por baixo, discordando, no entanto, com a vitória tangencial de Maria de Belém: para elas, Nóvoa venceu ligeiramente porque foi mais agressivo. Esta opinião não deixa de ter piada: a máquina milionária de propaganda de Sampaio da Nóvoa andou a encher as redes sociais com mensagens que acusam Marcelo de ter sido agressivo no debate contra o ex-militante da LUAR, mas agora dão a vitória a Nóvoa por ser…agressivo! Que incoerência! Imaginem caso Marcelo não tivesse sido agressivo! O que estariam a dizer agora – o Marcelo foi suave, o Marcelo foi cobarde, o Marcelo não se sabe impor…A máquina de propaganda milionária que hoje é de Sampaio da Nóvoa (mas foi de Sócrates e António Costa) funciona sempre da mesma maneira.

Tudo dito e somado, julgamos que as notas do debate são as seguintes:

Debate no geral – 12 valores;

Sampaio da Nóvoa – 11 valores;

Maria de Belém – 12 valores.

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