A era das supermodelos há muito acabou. Hoje em dia aparecem e desaparecem à velocidade de uma estação. As que vão perdurando no tempo, dedicadas apenas a construir uma carreira nas grandes passerelles e páginas das revistas de referências, são poucas. As novas top models forjam-se mais nas redes sociais, do que propriamente nas passerelles.
Se as top models dos anos 80 e 90 – décadas que projetaram nome como Claudia Schiffer, Cindy Crawford, Naomi Campbell, mas também Linda Evangelista, Christy Turlington, Elle MacPherson, Kate Moss e, mais tarde, Gisele Bundchen – eram deusas, as de hoje mais parecem miúdas que fizeram das redes sociais mais um placo para o seu trabalho. A portuguesa Sara Sampaio, por exemplo, soma 2,8 milhões de seguidores no Instagram. As recordistas são Gigi Hadid, com 11,7, Cara Delevigne, com 25,3, e Kendall Jenner, com 46,4.
O trio que agora regressa à ribalta soma valores consideravelmente inferiores: Cláudia Schiffer tem 199 mil seguidores no seu Instagram, Naomi Campbell, que mantém uma presença regular em programas de televisão, sobe aos 2,4 milhões, enquanto Cindy Crawford se fica pelos 950 mil. A sua filha adolescente, Kaia, a dar os primeiros passos como modelo, já vai nos 312 mil seguidores.
A verdade é que antes uma modelo singrava sobretudo devido às suas características físicas e dedicação, sendo as suas vidas pessoais mantidas quase em absoluto segredo, endeusando-as. Hoje em dia, sabemos o que comeram ao pequeno-almoço, quantas vezes vão ao ginásio, onde foram jantar. Tudo porque passam a vida a postar fotos sobre as suas vidas. Quanto mais conhecemos a vida de cada uma destas jovens, mas nos preocupamos com elas, numa lógica de proximidade, ao contrário das imagens icónicas e portanto algo distantes das gerações passadas de top models. Hoje, a carreira de uma modelo pode ser construída ou destruída pelas redes sociais e não por uma queda em passerelle.
Mas há carreiras que nenhuma queda ou ausência de seguidores no Instagram anula. É o caso de Claudia Schiffer (45), Cindy Crawford (49) e Naomi_Campbell (45). Agora fotografadas por Steven Klein, parecem querer mostrar que, apesar de já não andarem por aí, ainda podem fazer inveja a muita gente. Muita gente com menos de metade da idade. E elas sabem-no. “Adorei ver a Cindy e a Naomi. Sempre que estamos juntas parecem que não passou tempo nenhum. Vivemos momentos maravilhosos juntas. Eu e a Cindy falámos das nossas famílias enquanto nos arranjavam os cabelos e faziam a maquilhagem, e a Naomi, que continua a ter o melhor corpo, fazia toda a gente rir”, contou à “Vogue”, Claudia Schiffer acerca da produção da campanha para a Primavera/Verão 2016 da Balmain. “Trabalhar com estas mulheres é diferente de trabalhar com as modelos de hoje em dia. Elas sabem tanto sobre elas, as suas carreiras são tão fortes, conhecem os seus corpos tão bem. Elas mexem-se ao mesmo tempo que a câmara”, sublinhou o diretor criativo da marca, Olivier Rousteing.
Apesar destes elogios, a parceria de Claudia Schiffer, Cindy Crawford e Naomi Campbell com a Balmain, liderada por Olivier Rousteing, de 29 anos, acaba, no entanto, por ser de uma grande ironia, ele que é o rei das redes sociais, sempre seguido por socialites como Kim Kardashian e por uma legião das top models do momento – justamente como Gigi Hadid e Kendall Jenner, que aliás já foram protagonistas de campanhas da Balmain.
Rousteing, ele próprio, soma 2 milhões de seguidores no Instagram, e é visto como o criador da Geração Y, com o seu conceito de Balmain Army a servir de inspiração para toda uma geração que está hoje nos vintes. De tal forma que, quando as primeiras imagens desta campanha foram conhecidas, as redes sociais se apressaram a argumentar que o designer estaria a trair aqueles que são os seus seguidores. Mas Rousteing pensou em tudo. E o que queria mesmo era ensinar uma lição a essa geração. “Este é um novo capítulo para a Balmain. Por vezes as pessoas estão confusas e pensam que tudo tem a ver com o Instagram e as redes sociais, mas a Balmain tem uma alma profunda que vai além do número de seguidores. Tem a ver com sonhos e com amor. Acho que esta campanha mostra isso e vai-nos fazer regressar às origens. Esta campanha é sobre o que me faz amar a moda e estas três mulheres representam precisamente isso. Estas três mulheres são o que me fez amar a moda ontem, que me faz amar a moda hoje e que me fará amar a moda no futuro”, disse à “Vogue”. “Todas as pessoas que adoram a Balmain têm esta nostalgia do poder da moda nos anos 90 quando as modelos eram ícones. Quando se ama a Balmain, ama-se Cindy, Naomi, Claudia. É natural porque elas são icónicas, poderosas e fortes”, acrescentou.