Irão o take II de Rouhani

O Presidente do Irão conseguiu uma grande vitória ao ver levantadas as sanções ao país. Mas já tem outra batalha.

Em dois meses, quase tudo se joga para o Presidente iraniano Hassan Rouhani. E dizer que se joga para o Presidente quer dizer que também se joga para a região.

Dois meses e dois momentos cruciais. O primeiro foi ultrapassado com sucesso. O Irão executou a exigente quota parte do acordo para reduzir a sua capacidade nuclear e no sábado a comunidade levantou as sanções económicas que tinha imposto ao país.

O segundo só acontecerá a 26 de fevereiro, dia em que se realizam as eleições legislativas que podem dar ao Presidente um reforço de poder na Assembleia que lhe permita levar adiante a sua agenda renovadora.

Eleito em 2013, Rouhani prometeu melhorar as condições de vida da população, aumentar as liberdades individuais e abrir o país ao mundo. E foi cumprindo as promessas, que em 2015 deram um salto importante: em julho fechou o acordo sobre o nuclear com os países do Conselho de Segurança da ONU, Alemanha e UE, e em agosto reabriu a embaixada iraniana em Londres.

Para novembro tinha agendadas visitas a Itália e a França, que adiou por causa dos atentados de Paris. Vai realizá-las agora, chegando na próxima segunda-feira a Roma e dois dias depois a Paris, de onde espera trazer negócios que deem a perspetiva de um futuro fora da pobreza aos milhões de jovens que são mais de metade do total da população iraniana.

«O Irão poderá ser uma dos mercados emergentes mais promissores das próximas décadas» aliciou esta semana perante o fórum capitalista de Davos o chefe de gabinete de Rouhani, Mohammad Nahavandian. Depois dos levantamento das sanções, um crescimento de «8% é realizável», acrescentou.

A semana do Presidente – e do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, o homem educado nos EUA e que no terreno tem levado a abertura a bom porto – foi ainda marcada por uma troca de prisioneiros com os Estados Unidos, em que o Irão deu mais do que recebeu. Mas ganhou com o desbloqueamento de verbas retidas em bancos americanos desde os anos 80. Barack Obama felicitou a nova era, ao mesmo tempo que impunha umas novas e leves sanções ao país, justificadas com testes iranianos com mísseis balísticos. Teerão, claro, protestou. Apesar da repercussão internacional da decisão, a importância do que os países acordaram ultrapassa largamente a divergência. É certo que as novas sanções não foram apenas para ‘inglês ver’, porque 37 anos de corte de relações não se ultrapassam rapidamente, mas foram muito destinadas a dominar receios internos que Washington se está a exceder na abertura a Teerão e também para acalmar os aliados do país no Médio Oriente (e rivais do Irão) – fundamentalmente Israel e Arábia Saudita.

Há, aliás, quem preveja que dentro de meia dúzia de anos (se o próximo Presidente norte-americano prosseguir os esforços), os dois países possam reatar relações diplomáticas.

No campo interno, as eleições de fevereiro serão fundamentais. Neste momento, os radicais dominam o parlamento e ainda esta semana o também conservador Conselho dos Guardiães da Constituição rejeitou milhares de candidatos progressistas. Nove partidos reformadores queixaram-se que apenas 30 dos seus 3 mil candidatos passaram pelo crivo do Conselho.

Não será fácil . Na quarta-feira o Líder Supremo do país, político e religioso, recordou: «Disse que até quem é contra o regime deve participar na eleição», mas, acrescentou, «não quis, porém, dizer que quem é contra o regime deva ser autorizado a encontrar o seu caminho para o Majlis [a Assembleia]. Não se encontra um país no mundo onde as pessoas que são contra o sistema são aceites em quaisquer órgãos de decisão».

Ontem, Rouhani desafiou-o num discurso transmitido pela televisão estatal. Pediu mais abertura ao Conselho – que vai agora analisar recursos às suas recusas. «Esperamos que todas as fações consigam ter os seus representantes no Parlamento», que é a «casa do povo e não de uma fação em particular».

Anunciou ainda que tinha nomeado o seu vice-Presidente Eshagh Jahangiri para dialogar com o Conselho, que entretanto disse que os seus membros «não serão influenciados pela pressão». A lista final dos candidatos será publicada a 4 de fevereiro. Na prática, serão uma espécie de primárias para as legislativas.

teresa.oliveira@sol.pt