Um orçamento arrojado

O orçamento apresentado por Mário Centeno tem um certo de grau de audácia nas previsões. Primeiro, que o crescimento previsto do PIB (total da produção do país) ficou nos 2,1%, ligeiramente acima do crescimento potencial do país e citado pelo revisor do meu livro, João Silvestre, do Expresso, que se fica num crescimento de 2%…

O crescimento potencial do país, dito de forma simples, é o máximo que ele pode produzir, sem disparar a inflação, por exemplo por falta de trabalhadores qualificados. Por alguma razão a Alemanha e o Reino Unido importam portugueses para as suas fábricas e hospitais, e nós só importamos alemães e britânicos para irem viver no Algarve. Há várias razões para o crescimento potencial do PIB português ser tão baixo: obsolescência das maquinarias, falta de conhecimentos atualizados por boa parte dos trabalhadores e dos desempregados, desequilíbrio das contas públicas, etc. Só em autoestradas e nas contas com o exterior é que estamos bem. Mas, dado o estado lastimável em que o país se encontra, pode ser difícil atingir os 2,1% de crescimento.

O outro objetivo ambicioso é a valor do défice em 2016, que se prevê descer do 3% estimados para 2015 para 2,6% em 2016. Representa uma redução do défice de cerca de 700 milhões de euros. E, com a despesa a aumentar, só há uma solução: aumentar os impostos. O IRS só vai descer para alguns, o IRC para a sua trajetória descendente, que tinha sido acordado pelo anterior governo, e os combustíveis sobem de preço: 4 cêntimos por litro no gasóleo e 5 na gasolina.

É possível que o pior da austeridade já tenha passado. De qualquer forma, convém sermos prudentes e estarmos atentos.