A falta de chá político de António Costa

As presidenciais deste 24 de janeiro representam uma vitória de Marcelo Rebelo de Sousa em todas as frentes.

Vence à 1.ª volta, com mais do dobro de votos do segundo candidato, Sampaio da Nóvoa, silenciando as vozes da esquerda radical que apostavam tudo numa 2.ª volta a 14 de fevereiro. Vence com 52%, superando os 50,6% de Cavaco Silva na sua primeira eleição em 2006 (e ultrapassando em quase 200 mil votos os 2 milhões e 232 mil votos de Cavaco em 2011). Vence alargando em mais de 300 mil votos a base eleitoral de PSD e CDS nas legislativas de 2 de outubro. Vence com uma campanha onde afirmou de forma impressiva a independência da sua candidatura. E chega a Belém com uma incontestável e sólida legitimidade política e pessoal.

Para lá da maioria absoluta de Marcelo, vale a pena fazer mais algumas notas sobre os resultados e a noite eleitoral. Para salientar os estrondosos atos falhados em que se converteram as candidaturas da anódina ex-presidente do PS e do Diácono Remédios que o PCP fez avançar nesta campanha. Maria de Belém e Edgar Silva ficaram, ambos, abaixo do limiar mínimo de representatividade dos 5%. Belém protagonizou um meteórico esvaziamento das suas intenções de voto: em apenas três semanas, a sua infeliz prestação nos principais debates televisivos, a aparição da nomenclatura do PS em peso nos comícios de Nóvoa e a triste polémica das subvenções vitalícias fizeram-na cair dos 15% nas sondagens para os 4,2% da noite de domingo. Edgar Silva cometeu a proeza, sem nenhuma candidatura forte na área do PS e fazendo uma campanha baça e cinzenta, de ficar abaixo dos 4%, uma votação quase humilhante, que consegue ficar até atrás dos desastrados 5% de António Abreu ou dos 7% de Octávio Pato e de Francisco Lopes. Duas pesadas derrotas consecutivas do PCP face ao Bloco de Esquerda, nas legislativas e nas presidenciais, deviam obrigar o Comité Central a reunir de emergência na Soeiro Pereira Gomes.

E se ‘Tino’ de Rans foi uma espécie de Tiririca ou de José Manuel Coelho destas eleições, chegando ao sexto lugar e quase ultrapassando o candidato do PCP, também a inusitada intervenção de António Costa merece um comentário. Quem se julgará Costa para se dar o direito de ser o último a falar ao país – depois do próprio Presidente eleito! – na noite eleitoral? Subiu-lhe o poder à cabeça e perdeu a noção das hierarquias? Acha que se já subverteu a eleição do presidente da AR também pode desvirtuar as regras das formalidades eleitorais? Como se dizia de quem não mostra maneiras e atropela as normas da convivência civilizada, será que faltou a António Costa beber algum chá político em pequenino?

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