Anderson. Paak Uma long drink à qual não se espreita o fundo

Foi sem abrigo em tempos idos, por não se contentar com a condição de músico a part-time. Deram-lhe a mão e ele deu o braço, nunca pediu. “Compton”, de Dr Dre, com o qual colaborou intensamente, abriu-lhe várias portas. “Malibu” é o segundo disco de um artista com história por detrás das notas.

Dita o trono territorial que quando se vê um chapéu novo no bairro há que lhe virar a pala. Conhecer a marca. Perceber de que material se faz. Foi mais ou menos essa averiguação que se exigiu quando um tal de Anderson .Paak começou a ter estilo nas ruas da Califórnia – lugar onde sobressair não é fácil. Costumava ser Breezy Lovejoy, um praticamente ilustre desconhecido, viajou até “Venice” (2014), já com o atual nome artístico, e as gôndolas serviram de alarme: “Pessoal, despachem-se que este rapaz é bom”. Convém sempre contar com o YouTube nestas alturas. Esse eterno bom sujeito fez o seu papel e o projeto a meias com o DJ Knxwledge – conhecido como NxWorries – tratou de reforçar o pedido de atenção. Há sempre alguém que tem que pagar o smoking, há sempre quem tenha que ser padrinho. Dr Dre e o seu recente disco “Compton” – onde Anderson .Paak foi parte do processo e participou em seis temas – foi o melhor batismo que lhe podia ter calhado. Agora é tempo de segundo disco e de manifesto: querem ouvir-me? “Malibu” pode bem ser o primeiro copo de um artista que promete fazer de 2016 uma espécie de banquete, melhor: uma espécie de bar aberto. Tchin, tchin.

Brandon Paak Anderson é filho de uma agricultora sul-coreana e de um norte-americano que passou grande parte da sua vida a servir na Força Área. Cresceu em Oxnard, a mais fértil zona de produção agrícola da Califórnia, responsável por uma enorme quantidade de morangos, algo a que a mãe de Paak se agarrou para formar o seu império. Suficiente para oferecer um kit de bateria a Brandon. Este, por sua vez, tímido e talentoso, fechava-se no quarto a fazer música que ninguém ouvia._Foi na igreja da família que conheceu a bateria, o seu instrumento por defeito. Tinha 11 anos. Dez anos depois ainda não se tinha dado o caso de escutar uma faixa sua na rádio. Foi precisamente aos 21 que Paak se cansou de saltar de trabalho em trabalho, de tocar ao fundo do palco escondido dos focos de luz – “Aos 21, estava do género ‘Vou ser artista e vou fazê-lo a tempo inteiro. Vou tocar bateria, cantar e realmente alimentar a veia artística, fazer a música que quero fazer. Não vou ser um rapaz de coro’”, contou numa entrevista dada ao “Consequence of Sound”, em dezembro de 2015.

Para grandes atitudes, grandes riscos. O tudo-ou-nada fê-lo mesmo ficar sem casa numa altura em que estava a preparar o seu primeiro disco e a trabalhar numa quinta de marijuana. Perdeu o emprego subitamente, numa altura em que tinha acabado de casar e ser pai. “Não queria trabalhar por tostões, ter emprego mas, ainda assim, estar sem abrigo. Só queria estar com quem estava a fazer o mesmo que eu. Graças a Deus estava rodeado de pessoas que acreditavam em mim e que não me queriam ver na rua”, disse ao site “Allhiphop”, em 2014. Falava de Shafiq Husayn, dos Sa-Ra (grupo de hip-hop norte-americano), que o contratou como assistente, editor de vídeo, produtor, compositor, tudo para que Paak não gastasse o seu latim a pedir esmola. Aproveitou a benesse para editar “O.B.E. Vol 1” (2012), ainda como Breezy Lovejoy. O tapete vermelho estava lançado.

Estilo Próprio

Já o dissemos – embora nunca seja demais repetir – não é por um artista ter jeito e bom gosto que a sua música vai longe. Anderson .Paak foi traçando o seu destino pelas esquinas do underground californiano. Ou seja, já havia quem gostasse do seu trabalho mas escrever o seu nome no Google era um beco sem saída. Coisa que mudou devido a Dr Dre e à participação de Paak no último disco de Dre, “Compton”, que se seguiu ao filme “Straight Outta Compton”. Local de culto e de nascimento de astros do rap – N.W.A. e Kendrick Lamar à cabeça – e onde, curiosamente, a sua mãe viveu antes de se mudar para Oxnard. Coincidências da vida. 2015 assumiu-se, então, como ano de apresentação mais mediática ao público. A cada faixa de “Compton” em que Paak participa se discute de quem é aquela voz magnífica lá ao fundo. É sua. Tão sua que se torna impossível de confundir. E se “Venice” antecipava um lugar à luz para o americano, este “Malibu” atira-o para a liga dos melhores, para a lista de gente que devemos ouvir. Prioridade jamais em vão. Não fosse Anderson .Paak dono de um estilo que não se encontra por aí, a vaguear nas praias de Los Angeles. A sua voz é de invejar qualquer rapper que consigo colabore, mistura funk, soul, r&b, e ainda nos dá a possibilidade de o tratar por rapper – sim este senhor também rima.

Não confundir “Malibu” com aquela bebida que só se bebe até aos 16 anos e que requer duas ou três garrafas de seguida para surtir algum efeito. O segundo disco de Anderson .Paak é como um shot de tequila, bate à primeira escuta e provoca uma vontade inexplicável pela repetição – desculpamo-nos assim com o excesso de tequila quase todas as sextas-feiras. Juntou BJ The Chicado Kid, ScHoolboy Q, The Rapsody, The Game e Talib Kweli à volta desta fogueira e criou um disco exótico, que tanto pede fins de tarde entre palmeiras e gins, como noites entre copos de whisky e limusines. Em certos casos chega a ter ecos de James Brown ou de Stevie Wonder. Dá a ideia que não são os convidados que impõem o seu estilo, é antes Paak que os traz para o seu registo – o exemplo maior deste condição é “Am I Wrong” com ScHoolboy Q, onde imaginamos o bastião do rap mais gangster da Top Dawg Entertnaiment a dançar com uma camisa havaiana. Anderson .Paak é um nome que vai repetir mais do que pensa em 2016. 

Anderson. Paak Uma long drink à qual não se espreita o fundo

Miguel Branco

Foi sem abrigo em tempos idos, por não se contentar com a condição de músico a part-time. Deram-lhe a mão e ele deu o braço, nunca pediu. “Compton”, de Dr Dre, com o qual colaborou intensamente, abriu-lhe várias portas. “Malibu” é o segundo disco de um artista com história por detrás das notas.

Dita o trono territorial que quando se vê um chapéu novo no bairro há que lhe virar a pala. Conhecer a marca. Perceber de que material se faz. Foi mais ou menos essa averiguação que se exigiu quando um tal de Anderson .Paak começou a ter estilo nas ruas da Califórnia – lugar onde sobressair não é fácil. Costumava ser Breezy Lovejoy, um praticamente ilustre desconhecido, viajou até “Venice” (2014), já com o atual nome artístico, e as gôndolas serviram de alarme: “Pessoal, despachem-se que este rapaz é bom”. Convém sempre contar com o YouTube nestas alturas. Esse eterno bom sujeito fez o seu papel e o projeto a meias com o DJ Knxwledge – conhecido como NxWorries – tratou de reforçar o pedido de atenção. Há sempre alguém que tem que pagar o smoking, há sempre quem tenha que ser padrinho. Dr Dre e o seu recente disco “Compton” – onde Anderson .Paak foi parte do processo e participou em seis temas – foi o melhor batismo que lhe podia ter calhado. Agora é tempo de segundo disco e de manifesto: querem ouvir-me? “Malibu” pode bem ser o primeiro copo de um artista que promete fazer de 2016 uma espécie de banquete, melhor: uma espécie de bar aberto. Tchin, tchin.

Brandon Paak Anderson é filho de uma agricultora sul-coreana e de um norte-americano que passou grande parte da sua vida a servir na Força Área. Cresceu em Oxnard, a mais fértil zona de produção agrícola da Califórnia, responsável por uma enorme quantidade de morangos, algo a que a mãe de Paak se agarrou para formar o seu império. Suficiente para oferecer um kit de bateria a Brandon. Este, por sua vez, tímido e talentoso, fechava-se no quarto a fazer música que ninguém ouvia._Foi na igreja da família que conheceu a bateria, o seu instrumento por defeito. Tinha 11 anos. Dez anos depois ainda não se tinha dado o caso de escutar uma faixa sua na rádio. Foi precisamente aos 21 que Paak se cansou de saltar de trabalho em trabalho, de tocar ao fundo do palco escondido dos focos de luz – “Aos 21, estava do género ‘Vou ser artista e vou fazê-lo a tempo inteiro. Vou tocar bateria, cantar e realmente alimentar a veia artística, fazer a música que quero fazer. Não vou ser um rapaz de coro’”, contou numa entrevista dada ao “Consequence of Sound”, em dezembro de 2015.

Para grandes atitudes, grandes riscos. O tudo-ou-nada fê-lo mesmo ficar sem casa numa altura em que estava a preparar o seu primeiro disco e a trabalhar numa quinta de marijuana. Perdeu o emprego subitamente, numa altura em que tinha acabado de casar e ser pai. “Não queria trabalhar por tostões, ter emprego mas, ainda assim, estar sem abrigo. Só queria estar com quem estava a fazer o mesmo que eu. Graças a Deus estava rodeado de pessoas que acreditavam em mim e que não me queriam ver na rua”, disse ao site “Allhiphop”, em 2014. Falava de Shafiq Husayn, dos Sa-Ra (grupo de hip-hop norte-americano), que o contratou como assistente, editor de vídeo, produtor, compositor, tudo para que Paak não gastasse o seu latim a pedir esmola. Aproveitou a benesse para editar “O.B.E. Vol 1” (2012), ainda como Breezy Lovejoy. O tapete vermelho estava lançado.

Estilo Próprio

Já o dissemos – embora nunca seja demais repetir – não é por um artista ter jeito e bom gosto que a sua música vai longe. Anderson .Paak foi traçando o seu destino pelas esquinas do underground californiano. Ou seja, já havia quem gostasse do seu trabalho mas escrever o seu nome no Google era um beco sem saída. Coisa que mudou devido a Dr Dre e à participação de Paak no último disco de Dre, “Compton”, que se seguiu ao filme “Straight Outta Compton”. Local de culto e de nascimento de astros do rap – N.W.A. e Kendrick Lamar à cabeça – e onde, curiosamente, a sua mãe viveu antes de se mudar para Oxnard. Coincidências da vida. 2015 assumiu-se, então, como ano de apresentação mais mediática ao público. A cada faixa de “Compton” em que Paak participa se discute de quem é aquela voz magnífica lá ao fundo. É sua. Tão sua que se torna impossível de confundir. E se “Venice” antecipava um lugar à luz para o americano, este “Malibu” atira-o para a liga dos melhores, para a lista de gente que devemos ouvir. Prioridade jamais em vão. Não fosse Anderson .Paak dono de um estilo que não se encontra por aí, a vaguear nas praias de Los Angeles. A sua voz é de invejar qualquer rapper que consigo colabore, mistura funk, soul, r&b, e ainda nos dá a possibilidade de o tratar por rapper – sim este senhor também rima.

Não confundir “Malibu” com aquela bebida que só se bebe até aos 16 anos e que requer duas ou três garrafas de seguida para surtir algum efeito. O segundo disco de Anderson .Paak é como um shot de tequila, bate à primeira escuta e provoca uma vontade inexplicável pela repetição – desculpamo-nos assim com o excesso de tequila quase todas as sextas-feiras. Juntou BJ The Chicado Kid, ScHoolboy Q, The Rapsody, The Game e Talib Kweli à volta desta fogueira e criou um disco exótico, que tanto pede fins de tarde entre palmeiras e gins, como noites entre copos de whisky e limusines. Em certos casos chega a ter ecos de James Brown ou de Stevie Wonder. Dá a ideia que não são os convidados que impõem o seu estilo, é antes Paak que os traz para o seu registo – o exemplo maior deste condição é “Am I Wrong” com ScHoolboy Q, onde imaginamos o bastião do rap mais gangster da Top Dawg Entertnaiment a dançar com uma camisa havaiana. Anderson .Paak é um nome que vai repetir mais do que pensa em 2016.

miguel.m.branco@sol.pt