2.Com a devida vénia, não concordamos com a avaliação tão negativa que a crítica portuguesa faz ao filme de Michael Bay. Desde logo, porque o cineasta não se rende à tentação fácil de converter o filme num típico pretexto visual para comer pipocas numa sala escura: as cenas de violência são realizadas com mestria e classe cinematográfica, não se podendo qualificar como violência gratuita ou impressionista. Em segundo lugar, Michael Bay dá uma expressão artística fiel ao livro publicado por Mitchell Zuckoff, relatando os factos (verídicos) de um episódio político-diplomático ainda traumático para os cidadãos norte-americanos: a tomada de assalto do Complexo de Missão Especial do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América e de uma unidade não identificada da CIA, em território líbio. Michael Bay consegue, pois, um equilíbrio muito interessante entre a denúncia da violência dos ataques, o desespero e a bravura dos homens (sobretudo, os de uma agência privada de segurança –a GRS – que adjuvava a CIA) e a homenagem (justíssima às vítimas).
3.Dito isto, pergunta-se: há alguma política subliminar no filme de Michael Bay? A discussão continua viva em território norte-americano. Percebe-se: iniciamos agora o longo percurso que levará à nomeação do candidato do Partido Republicano e do candidato Partido Democrata à Casa Branca, processo que terminará em Novembro com a eleição do sucessor de Barack Obama. E a candidata mais forte (para lá do epifenómeno chamado Bernie Sanders) do lado dos Democratas chama-se Hillary Rodham Clinton: nada mais, nada menos que a então Secretária de Estado dos Estados Unidos da América ao tempo da tomada de assalto ao Complexo da Missão em Benghazi. O filme de Michael Bay surgiu, pois, como um presente para a FOX NEWS e para os candidatos republicanos: naquela estação noticiosa, o filme tem sido dissecado e elogiado à exaustão…desde Outubro. Desde Charles Kraumpthammer, passando por Andrea Tantaros até à estrela da estação, Megyn Kelly, todos são unânimes no elogio ao patriotismo e à coragem cívica de Michael Bay. Megyn Kelly formulou mesmo um desejo: que os americanos vejam em massa o filme e deixem a sala de cinema reflectindo sobre as incongruências e as falhas da política externa da administração Obama. E se lembrem da incompetência atroz de Hillary Clinton na gestão deste caso – que custou vidas a cidadãos americanos – no momento de decidir quem será o próximo Presidente da notável Nação americana.
4.Do lado democrata, regista-se a atitude inversa: a de desvalorizar o filme, resumindo-o a mais um filme de acção para entreter (geralmente os mais rentáveis no período pós-Natal no “box office”), o qual obedece, portanto, a uma estratégia comercial da Paramount Pictures. Acrescenta-se, ainda, que Michael Bay é um realizador conservador, próximo do GOP (Partido Republicano): o próprio Bay confessou que no seus filmes mais recentes (incluindo nos “Transformers”) surgem subtilmente críticas ao Presidente Barack Obama, desmentindo, porém, que as mesmas possam ser interpretados como um posicionamento político estrutural mais à direita. Antes, tais críticas seriam a sua vingança pessoal pelo facto de Barack Obama o desprezar como realizador, apelidando-o mesmo de “asshole director”.
5.Que dizer? Bom, de facto, não podemos negar que o filme “ 13 Horas” encaixa na perfeição na narrativa dos candidatos republicanos contra Hillary Clinton: recorde-se, ainda, que decorre um inquérito para averiguar se Clinton não fez tudo o que lhe competia para salvar os cidadãos americanos alvo de ataque, alegando-se mesmo que a então Secretária de Estado teria omitido informação relevante e comprometedora. O candidato Chris Christie – actual Governador do Estado de New Jersey – vincou ontem, no debate entre os candidatos do GOP organizado pela FOX NEWS e pela Google, que tudo fará para processar Hillary Clinton e declarar os “Clintons” inabilitados para exercer funções públicas. Em vários momentos, os agentes da GRS realçam a falta absoluta de meios americanos de auxílio – e é dado relevo ao facto de ser um avião líbio, e não norte-americano, a transportar os agentes para solo de Tio Sam. Michael Bay colocou-se, pois, no papel de um “Chris Christie cool”.
6.Contudo, julgamos que mais do que uma procissão de fé de republicanismo ou de conservadorismo, Michael Bay pretendeu exaltar o patriotismo e os valores americanos da liberdade e da bravura. De heróis que vencem qualquer circunstância, por mais adversa que seja. Ora, ninguém pode ser condenado por ser patriota. E os americanos devem orgulhar-se da sua pátria – sem medos, nem embaraços. O patriotismo não é uma questão dos Democratas ou dos Republicanos: é uma questão de civismo e de civilidade. Michael Bay – como americano orgulhoso que é – presta esta homenagem a homens que lutaram pela liberdade, em momento muito conturbado, num país que é um Estado falhado.
7.Por outro lado, o filme “ 13 Horas” merece ser visto por mostrar o lado menos conhecido de homens que enfrentam situações muito perigosas, que têm de resolver as situações, no terreno, que não foram previstas – e que não pertencem à estrutura militar, nem aos serviços de inteligência, sob a alçada do “Department of State”. São empresas privadas que recrutam ex-militares e que desenvolvem a sua formação, preparando-os para situações limite. E esta é uma reflexão que deve ser feita – mesmo que conjunturalmente seja adversa à força do poder (os democratas), será certamente favorável para a segurança da Nação americana…e do mundo.