Estados de Alma

1. Os credores. Os juros em mercado secundário da dívida pública sobem para patamares que são inéditos desde que o BCE iniciou os estímulos monetários; os credores do Novo Banco reúnem-se em Londres; um banco alemão considera Portugal o novo mau aluno da UE.

É claro que os mercados financeiros nos olham com desconfiança. Penso que este mal estar tem o epicentro na decisão de incumprir com a dívida sénior do Novo Banco, a maioria dela nas mãos de instituições financeiras internacionais. Esta decisão aumentará o prémio de risco da nova dívida nacional, pública ou privada.

Se os atores nos mercados não incorporavam o risco de default estavam a ser míopes e, portanto, a cobrar  taxas inferiores ao equilíbrio. Um processo que, recorde-se, esteve na génese da crise das dívidas soberanas. Mas, não obstante os custos, o Banco de Portugal tomou a decisão certa com o bail in. E não é somente a questão da moralidade: tornar o endividamento nacional mais difícil e, sobretudo, mais caro é bom economicamente pois desincentiva o seu excesso.

2. Presidenciais. Ainda não comentei as eleições presidenciais nesta coluna porque, francamente, não dei por elas. E penso que tal não se deve apenas à minha ausência do país. Os menos de 600 mil espetadores que viram o derradeiro debate televisivo a nove testemunham bem que os meus concidadãos residentes também não deram pelas eleições.

A proliferação de candidatos, a ridícula impreparação de muitos e a quase generalizada incompreensão da função presidencial, desprestigiam a cargo e afastam os votantes. Para atrair tais candidatos o lugar não pode ser a sério, dirão muitos. Mas é! É certo que não tem poderes de governação, não tem instrumentos para inaugurar novos tempos, não conseguirá regenerar o establishment nem, tão pouco, prevenir a austeridade. A importância do cargo resulta de dois importantes poderes de natureza diversa: um, de alta frequência e baixa intensidade, é o moderador, assente na pedagogia cívica e na construção de pontes entre partidos, interesses e setores;  o outro, de baixa frequência mas alta intensidade, é o ‘dissuasor nuclear’ de poder dissolver o Parlamento. O bom exercício do primeiro requer, experiência, imaginação e capacidade de comunicação; o bom exercício do segundo requer bom senso e moderação. Por isso, Marcelo é o melhor candidato.