O perfil biográfico de Tiago Brandão Rodrigues – prévio a estar sentado à mesa do Governo – parece revelador de um jovem ponderado, que progrediu na formação académica por mérito próprio e se distinguiu como cientista, desejoso de provar que Paredes de Coura, onde nasceu, deveria ter orgulho no seu filho.
Um estrangeirado, admirador confesso da cultura anglo-saxónica e da exigência de Cambridge, segredo de um viveiro de prémios Nobel, que não se alcançam pelo facilitismo.
Quis o destino (travesso…) que o investigador se tivesse cruzado um dia, acidentalmente, numa vinda às terras de origem, com António Costa – quando este cirandava em busca de apoios para apear António José Seguro – e, para desgraça nossa, descobriu o apelo irresistível da política, como o próprio revelou.
Em pouco tempo, Brandão Rodrigues fez uma conversão acelerada ao PS, a ponto de confessar, numa entrevista de final verão que, «obviamente», estaria preparado «para ajudar o PS quando for Governo».
Estão à vista os primeiros resultados do impetuoso «papagaio da Fenprof», como lhe chamou, descaridoso, António Barreto, em artigo no DN.
De facto, a sua visão iluminada das coisas deve ter sido carimbada por Mário Nogueira no edifício da 5 de outubro, onde ‘ocupa’ um lugar aparentemente vitalício, pastoreando os professores que o consentem.
Espanta a arrogância neste homem, até há pouco seduzido pelo rigor e pelas mentorias da histórica Universidade de Cambridge, ao deitar ao lixo o trabalho dos seus antecessores em menos de dois meses.
É certo que não inventou o experimentalismo naquele Ministério. Mas foi, sem dúvida, um dos mais velozes a fazê-lo, à revelia de tudo e de todos, tratando o Conselho Nacional de Educação (CNE), com uma sobranceria a roçar a inconveniência – «Nós ouvimo-lo e respeitamo-lo, mas quem governa somos nós».
Este comportamento de truculência política, ao arrepio do bom senso, colide com a ideia que se tinha do cientista e académico que poderia estar «até ao fim da vida» em Cambridge. E afronta o que disse de si próprio, ainda há meses, ao reconhecer que «a falta de experiência combate-se ouvindo, aprendendo, trabalhando».
Tudo o que não fez ao tornar-se ministro, chegando ao ponto de proclamar, urbi et orbi, «nocivo» o modelo anterior dos exames, excomungando-os como «cultura da nota».
Com este discurso, não admira que tenha recolhido os encómios dos sindicatos dominados pelo PCP e a simpatia do Bloco de Esquerda, que respira a balda e as questões fraturantes.
David Justino, presidente do CNE, com uma experiência académica, politica e de vida que manifestamente faltam a Brandão Rodrigues, diria em recente conferência de imprensa que «em exame, o grau de mobilização de alunos, pais, escolas, recursos, é muito maior. Levam aquilo a sério. Nas provas de aferição isso não se verifica».
E disse mais: a tomada de decisões «não se pode regular pelo vox populi ou pelo ambiente de campanha», concluindo que «não podemos andar neste pára-arranca».
Pior do que o pára-arranca é ter-se perdido o travão numa corrida alucinada em direção ao abismo, com danos potencialmente irreparáveis em gerações de alunos. De que lhes serve o ‘canudo’, se não reunirem os saberes fundamentais para progredir no competitivo mercado de trabalho? Enfeitam a parede e compõem a estatística.
As avaliações são fundamentais para alunos e professores. E estes, ao evitarem-nas, só querem esconder também, como já se provou, que alguns deles são de uma chocante iliteracia.
Com tais mudanças de supetão, à margem de qualquer estudo prévio (incluindo o fim da autonomia das escolas na escolha de docentes). agravou-se a perturbação na comunidade escolar.
Brandão Rodrigues obedeceu à cartilha ideológica da extrema- -esquerda, desprezando a prudência . É um erro de casting que vai arruinar, mais ainda, a depauperada escola pública.
Esta cultura do improviso não pode ter sido aprendida em Cambridge, onde qualquer mudança curricular, mínima que seja, não se faz antes de prolongadas e minuciosas discussões entre especialistas.
O fiasco político deste novel investigador, com o beneplácito de António Costa – convirá recordá-lo –, vem provar que não basta ter insígnias académicas para dar um governante capaz. São raros. Brandão Rodrigues não aprendeu a lição de Cambridge. Há bombeiros que são também pirómanos…