Nos início dos anos 50, o vírus zika foi detetado pela primeira vez em humanos no Uganda e na Tanzânia. Daí para cá passou tão despercebido que nem os especialistas tinham ouvido falar na doença. Um exemplo é o do biólogo Brian Foy, que esteve em 2008 no Senegal a estudar insetos e ficou doente após o seu regresso aos EUA. Semanas mais tarde, foi a mulher a adoecer. Fizeram vários testes, mas não se percebia do que tinham padecido.
Anos mais tarde, souberam que tinha sido zika. E ficaram com nova dúvida. O homem foi picado em África, mas como é que a mulher apanhara a doença, sendo que os filhos do casal estavam incólumes? As relações sexuais eram a única hipótese.
Como esta semana explicou Margaret Chan, da Organização Mundial de Saúde, «durante décadas, a doença transmitida pelo mosquito do género Aedes, esteve adormecida e afetava sobretudo macacos», numa faixa «equatorial» entre a África e a Ásia. Foi em 2007 que houve notícia dos primeiros surtos, no Pacífico. E também a primeira vez que se ouviu falar de consequências neurológicas – na Polinésia francesa – explicou a diretora-geral da OMS. Aqui, voltaram a ser feitos testes e foi detetada a presença de vírus no sémen de um taitiano.
«O papel do mosquito Aedes na transmissão da doença está documentado e percebido» mas há provas «limitadas» quanto à transmissão por outras fontes explicou a delegação nas Américas da OMS. Além dos casos já relatados, «são necessárias mais provas para confirmar se o contacto sexual é um meio de transmissão», também se sabe que pode ser transmitida pelo sangue, «apesar de ser raro». A organização considera que são ainda «limitadas» as provas de que se passa de mãe para filho durante a gestação – uma referência ao surto de microcefalia em bebés registado no Brasil e que parece cada vez mais ligado à doença. E defende que «de momento» não há provas de que esteja no leite materno.
No final de 2015 houve um surto de zika em Cabo Verde, mas sem notícia de qualquer complicação – apenas os sintomas ligeiros geralmente associados à infeção. Ainda não é claro o que terá acontecido no Brasil, sendo postas várias hipóteses, como a falta de imunidade ao vírus da população.
O que a OMS sabe é que este está a «espalhar-se explosivamente» pelo continente, prevendo-se que possa infetar até 4 milhões de pessoas em 2017. Na segunda-feira a organização reunirá para determinar se se está perante uma emergência de saúde pública de importância internacional (ISPII).
O mosquito que é o maior transmissor da doença (o Aedes aegypti) já está presente em todo o continente americano, à exceção do Chile e do Canadá. E também em alguns países do sul da Europa, como França e Itália. Os doentes detetados fora dos locais com surto foram lá infetados.
Agora a luta é eliminá-lo, o que já aconteceu no Brasil no século passado: em 1958 o país foi declarado livre do Aedes aegypti (que também transmite doenças mais comuns como o dengue). “Temos de erradicar o ‘criadouro’ do mosquito [as larvas reproduzem-se nas águas paradas]. Os governos, as igrejas, as equipas de futebol, os sindicatos, temos que trabalhar para eliminar a água parada”, declarou ontem a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff.