Há 16 anos que um Presidente iraniano não visitava oficialmente a Europa. Depois do levantamento das sanções impostas pela comunidade internacional ao Irão, Hassan Rouhani tinha viagem prevista em novembro, que os atentados em Paris adiaram para esta semana.
Aconteceu com estrondo mediático. Reuniu com os mais altos dirigentes políticos italianos e franceses, com o Papa, com representantes culturais e empresários. Fez negócios no valor de muitos milhares de milhões. Mas o que ficou para o grande público desta viagem histórica foi a polémica das estátuas que alguém no governo de Itália decidiu tapar para que a sua genitália não ofendesse a delegação iraniana.
O ministro da Cultura italiano criticou a ideia, afirmando que nem ele nem o primeiro-ministro Matteo Renzi tinham tido conhecimento do que se estava a passar. Segundo o governo, foram funcionários que tomaram a decisão, que Rouhani agradeceu. «Não houve contactos sobre este tema» disse, acrescentando: «Os italianos são um povo muito hospitaleiro e fazem o que podem para pôr os seus hóspedes à vontade, e eu agradeço-lhes por isso».
A visita serviu também para repescar um fait-divers de novembro, desta vez sobre Paris. Os iranianos teriam cancelado um almoço com François Hollande, porque os franceses recusariam um almoço halal, sem vinho. A Presidência francesa afirmou que a refeição nunca tinha estado prevista.
Em Itália, os dois países assinaram acordos sobre comboios de alta velocidade, gás e petróleo. Rouhani também esteve junto de uma plateia de várias centenas de empresários, onde assegurou que o Irão é o país mais estável e seguro da região. Saiu de Itália com negócios de milhares de milhões de euros nos bolsos.
Em França, houve protestos, com uma manifestação contra as execuções no Irão. Voltando à realpolitik, entre os dois países foram assinados 20 acordos. A Iran Air avançou com a compra de 118 aviões à Airbus, fez negócio com a Peugeot Citroën, e ainda houve entendimentos quanto ao transporte marítimo, aeroportos, saúde, agricultura, petróleo e gás. Hollande – que pelo caminho seguiu o exemplo dos EUA e pediu à UE sanções ligeiras para os seus visitantes por causa de testes com mísseis balísticos – disse que os acordos assinados chegavam aos 30 mil milhões de euros.