Esta semana ficámos a conhecer mais um dos planos de conquista vindo da Ásia. A II Liga de futebol português vai ter um novo patrocínio, a empresa Leadman, fabricante chinesa de lâmpadas LED. O anúncio veio de Pequim onde o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) selou um acordo – sem revelar os valores – com esta multinacional que já é a patrocinadora das duas principais ligas de futebol da China e tem uma participação de 25 milhões de euros na Infront Sports&Media, uma empresa suíça que detém os direitos de transmissão dos jogos do mundial da modalidade.
Ficou, porém, a polémica de uma alínea deste negócio, para além do novo nome, a «Ledman Proliga» e da cedência dos direitos de imagem dos jogadores e de publicidade dos jogos: a vinda de dez jogadores e três treinadores adjuntos para cá, algo ilegal aos olhos da FIFA, e incómodo para os presidentes dos clubes.
Este é só o início
Mas Proença, que continuou pelo continente asiático a fechar protocolos para dinamizar a cooperação entre os dois países, abrindo portas a novos mercados, e apostando na formação e intercâmbio de jogadores, deixou uma garantia. «Obviamente que não há obrigatoriedade de jogarem minutos, isto é um princípio de acordo que tem de ser ratificado em sede da direção da Liga, e uma grande vontade de podermos dar formação a treinadores, a técnicos e jogadores. Aquilo que se pretende é ter uma II Liga que seja atrativa», disse numa visita a Macau, deixando a possibilidade da final da Taça da Liga ser disputada por terras macaenses. Portugal é só mais um dos países a entrar numa ambição exploradora que já se espalhou pelo Brasil, Austrália e Inglaterra, por exemplo.
O empresário Qi Chen, que no ano passado se tornou acionista maioritário da SAD do Torrense e colabora agora com o Pinhalnovense, criou a empresa Wsports Seven (de capitais chineses) e o Oriental Dragon Football Clube, uma equipa que milita na segunda divisão da Associação Futebol de Setúbal, é exemplo disso mesmo. Do outro lado, temos a «Academia Figo», criada em 2014 em Pequim, implantada noutras sete cidades chinesas, que está a dinamizar o futebol infantil na região.
Uma estratégia que faz parte do «plano de reforma do futebol» apadrinhado em 2015 pelo secretário-geral do partido comunista chinês Xi Kinping, que quer elevar a seleção da modalidade ao estatuto de grande potência, começando nos mais jovens e escalando para ser o anfitrião e alcançar a conquista de um Mundial (em 2030) – o país só participou por uma vez em 2002 e está atualmente no lugar 82.º do ranking da FIFA. «Revitalizar o futebol é o necessário para transformar o nosso país numa potência que faz parte do sonho chinês», anunciou Xi no seu projeto. A aposta chinesa passa também por roubar patrocínios aos outros campeonatos, exemplo disso é a Ford, que se mudou da UEFA para a liga chinesa há dois anos largando a Liga dos Campeões. Também os futebolistas e treinadores começam a olhar para a China com outros olhos.
Quem já trocou a Europa
E isso leva-nos a quem já trocou a Europa pelos milhões da segunda maior economia do mundo. Jogadores como Didier Drogba, Nicolas Anelka e Gervinho, ou treinadores como Eriksson, Mano Menezes e Luiz Filipe Scolari fazem parte deste puzzle – na edição da Liga chinesa do ano passado apenas quatro das 16 equipas tinham treinadores chineses. E agora o ex-jogador do Chelsea Ramires, tornou-se na mais cara transferência da história do país – 33 milhões de euros para o Jiangsu Suning. Até um português não foi capaz de resistir, o antigo jogador do Braga Rúben Micael mudou-se para o futebol oriental em junho do ano passado.
Há também outras conquistas importantes. Em 2013, o Guangzhou Evergrande, pentacampeão em título que é agora comandado por Scolari, venceu a Liga dos Campeões asiáticos em 2013. O desempenho na Taça da Ásia da seleção chinesa, derrotada nos quartos-de-final pela Austrália em 2015, abrem boas perspetivas para o futuro.
Mas se o investimento é feito para dentro, há também muita aposta para fora. Por exemplo, a empresa CMC/Citic Capital comprou 13% da City Football Group (Manchester City), a Ledus detém o clube francês Sochaux da segunda liga, e o grupo Rastar detém 56% do Espanhol, clube da liga BBVA em Espanha, como revelou a estação britânica BBC.
Os Estados Unidos e o Médio Oriente que se cuidem. O Império Chinês está a chegar a todo o lado.