Começando desde muito cedo na militância da jota, Pedro Duarte foi dirigente associativo na Universidade Católica do Porto, ocupou diversos cargos nas estruturas locais do Porto da JSD, alcançando a liderança da jota no ano de 1998 (ano em que o líder do PSD ainda era Marcelo Rebelo de Sousa). Daí a Deputado, posteriormente a Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, acumulando sempre com lugares de relevo no PSD e terminando como director de campanha de Luís Filipe Menezes à Câmara Municipal do Porto – foi um pequeno, embora seguro, passo.
2.Com as turbulências e questões mais polémicas do rescaldo da campanha de Menezes no Porto, Pedro Duarte entendeu ser o momento para interromper o seu percurso político e encetar uma carreira profissional como director de Assuntos Corporativos da Microsoft Portugal, a convite de Mauro Xavier, líder da concelhia de Lisboa do PSD. Após o interregno de quatro anos, Pedro Duarte – que os amigos mais próximos descrevem como um ambicioso nato, um tacticista por natureza e com muito feeling político, para além de profundo conhecedor do modo de funcionamento da máquina do PSD, o que lhe confere poder na estrutura – precisava de uma oportunidade para relançar a sua carreira política, com o fito de alcançar , a breve trecho, o seu sonho de juventude: tornar-se líder do Partido Social-Democrata. E essa oportunidade surgiu: ser director de campanha do candidato vencedor.
3. O que trouxe um novo posicionamento político para Pedro Duarte no PSD. Parece que Pedro Duarte já tinha um plano devidamente pensado pra executar imediatamente a seguir ao conhecimento dos resultados oficiais. Primeiro, começou logo na quarta-feira com uma notícia publicada no “Diário de Notícias” em que Pedro Duarte era apresentado como um nome incontornável na equipa de Marcelo Rebelo de Sousa em Belém – mas que o próprio ex-director de campanha ponderava recusar o convite, pois voos mais altos o chamam no PSD. Leia-se: a liderança do partido inviabiliza a vontade de Pedro Duarte ser o homem da confiança de Marcelo em Belém.
4.O renascimento político de Pedro Duarte atingiu, todavia, o seu apogeu na entrevista concedida a um semanário português, publicada na edição do passado sábado. Nela, Pedro Duarte explica o seu papel na campanha, sublinha a sua contribuição para a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa muito rapidamente – para se concentrar em matérias como o futuro do PSD; os desafios de Pedro Passos Coelho; a deriva do PSD para a direita, com a presente necessidade de se recentrar; a crítica aos “políticos profissionais”, aos “políticos da máquina”, ao “carreirismo político”, elogiando a política das “ideias”, dos “ideais” e “das causas”. Pedro Duarte revelou que rejeita voltar à política para ter um trabalho – só volta se puder contribuir com ideias. Eis, portanto, o primeiro passo da candidatura de Pedro Duarte à liderança do PSD. Daqui a dois anos, se Passos Coelho, entretanto, não conseguir recuperar o Governo de Portugal para o partido laranja.
5.De facto, há três ideias fortes, que merecem ser destacadas, da entrevista de Pedro Duarte:
Pedro Duarte absorve, por completo, o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. A ideia dos compromissos, da moderação, da criação de pontes, do papel do PSD na união dos dois países divididos. Para quê? Para potenciar a popularidade de Marcelo – e a força eleitoral do novo Presidente – em seu benefício na correlação de forças internas no PSD;
Pedro Duarte acolhe o discurso anti-partidos, de crítica à máquina partidária e ao carreirismo político, muito popular entre os eleitores – o que é uma crítica já com destinatário: Pedro Passos Coelho. O que é curioso vindo de uma pessoa (muito capaz e competente) que deve praticamente tudo o que é hoje ao PSD e sua máquina…
Pedro Duarte declara que vai voltar à política activa para discutir ideias. Aguardemos serenamente que ideias serão essas: não sabemos o que Pedro Duarte defende para o futuro de Portugal. Teremos todo o interesse em descobrir nos próximos tempos.
6. Uma última nota para dizer que o timing escolhido por Pedro Duarte para o regresso tem outra explicação: o posicionamento já declarado de José Eduardo Martins para suceder a Pedro Passos Coelho. A guerra para a sucessão de Pedro Passos Coelho – quando e caso se colocar – será travada por dois nomes: José Eduardo Martins e Pedro Duarte. E Luís Montenegro? Bom, este terá a vida mais complicada – o avanço de Pedro Duarte, dado que a fonte dos apoios de um e de outro é a mesma, vem colocar a dúvida sobre o efectivo peso de Montenegro na estrutura do PSD…