Uma proposta para a reforma do ensino superior

     

Pelas informações divulgadas na imprensa, o Governo pondera avançar com uma nova reforma no ensino superior. A última grande reforma consistiu na alteração da duração e organização dos ciclos de estudos (redução da licenciatura de cinco para três anos), de acordo com a Declaração de Bolonha. Agora, estão em causa novos métodos de formação, onde a componente da investigação científica poderá ganhar mais protagonismo.

Hoje o ensino superior está diferente e a investigação desempenha ou deverá desempenhar um papel fulcral, tanto na progressão da carreira dos docentes como no financiamento das instituições de ensino. Estas são cada vez menos um local de aprendizagem de conteúdos, que se comprova pela redução da carga horária em ambiente de aula, e mais um local de aprendizagem de estruturação mental – é o local para ‘aprender a aprender’. A velocidade de geração de ciência, bem como a dinâmica e exigência da sociedade, faz com que alguns conteúdos fiquem ultrapassados rapidamente, pelo que o aluno nunca deixa de ser aluno ao longo da vida profissional.

Nesta reforma não deve passar ao lado a demarcação clara entre os politécnicos e as universidades. Nos últimos anos temos observado um desvanecimento da linha que separa os dois sistemas. Os politécnicos devem ser orientados para o papel inicialmente previsto, focado na formação superior prática e vocacional de desenvolvimento regional. A ambos os sistemas deve ser atribuída uma componente de investigação, devendo os politécnicos centrar-se na investigação aplicada a necessidades regionais e as universidades na investigação fundamental.

E qual a via a seguir? As bolsas de iniciação à investigação em ambos os ciclos de estudos (licenciatura e mestrado) poderão ser decisivas, pois poderão funcionar como um incentivo à fixação do aluno na investigação. Contudo, os recursos financeiros das instituições são cada vez mais escassos, pelo que uma reforma assente na investigação deverá prever o envolvimento e o apoio das empresas. Cabe ao governo delinear uma estratégia de reforma, revendo o envolvimento das empresas, acompanhada, por exemplo, de um modelo ponderado de isenções fiscais para as empresas interessadas em apoiar a investigação e em criar vagas para estágios de alunos durante a formação.

*Diretor da Licenciatura em Engenharia Civil

Universidade Lusófona, Lisboa