Marina Picasso vê os rendimentos assim obtidos como uma justa recompensa pela forma como o seu avô semeou a infelicidade junto da família. No livro Grand-père, publicado em França em 2001, denunciava a forma ditatorial como o gigante das artes tratava os seus, fazendo-os esperar à porta da sua fazenda em Cannes porque estava a trabalhar ou a receber amigos, tratando-os com desprezo, tornando-os dependentes das suas pequenas benesses. Numa entrevista, Marina enunciou as vítimas: "O meu irmão, Pablito, suicidou-se. O nosso pai seguiu-se-lhe dois anos mais tarde, depois Marie-Thérèse Walter, a musa inconsolável, foi encontrada enforcada; Jacqueline, a companheira dos últimos dias, acabou com uma bala na cabeça, Dora Maar morreu na miséria rodeada de telas que se recusou vender".
É por essas e por outras que Marina Picasso não tem quaisquer complexos em lucrar com aquilo que herdou do avô. Mãe de cinco filhos e presidente de uma fundação que acolhe refugiados vietnamitas, no ano passado colocou à venda a célebre Villa La Californie, em Cannes, por mais de uma centena de milhões de euros. A antiga casa de Picasso, onde nasceram tantas das suas criações, ainda não encontrou no entanto comprador.