CGD com aumento de capital à vista

O banco do Estado foi o único dos quatro maiores a apresentar prejuízos em 2015. As perdas foram de 171, 5 milhões e já contabiliza cinco anos consecutivos de resultados negativos que somam quase dois mil milhões.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi o único dos quatro maiores bancos a apresentar prejuízos em 2015. Apesar das perdas de 171,5 milhões de euros, representa uma redução face aos 348 milhões contabilizados em 2014.

O banco estatal contabiliza já cinco anos consecutivos de perdas que atingem quase os dois mil milhões de euros, uma tendência que o atual presidente da instituição acredita que seja invertida já este ano. Desde 2011, quando a atual gestão assumiu funções, liderada por José de Matos, a CGD foi obrigada a contabilizar imparidades de cinco mil milhões, relacionadas com operações problemáticas e mau crédito antigo.

O gestor da XTB contactado pelo SOL, Tiago da Costa Cardoso, mostra-se otimista em relação ao futuro da instituição financeira e lembra que «apesar de ter sido o único banco português até agora a apresentar perdas, conseguimos verificar uma evolução dos resultados, já que esta perda equivale a metade das perdas dos anos transatos».  

As reformas antecipadas foram, no entender da instituição financeira, uma das razões apontadas para este resultado. O banco diz que «expurgando dos custos de 2015 o montante de 65 milhões de euros referentes ao aprovisionamento do Plano Horizonte, o resultado antes de impostos e de interesses minoritários teria sido de 43,7 milhões de euros, e o resultado líquido de menos 106,5 milhões de euros». (ver texto ao lado).

José de Matos mostra-se confiante no regresso aos lucros em 2016 e garante que, quando chegou ao banco, encontrou «um petroleiro». No entanto, de acordo com o responsável, os resultados, embora ainda negativos, «registaram forte melhoramento, apesar do quadro» de crise económica em que o setor desenvolveu a sua atividade.

O banqueiro acrescenta ainda que «o futuro da instituição, a curto prazo, está mais seguro e forte» do que tem estado até aqui e lembra que o banco tem de cumprir «obrigações de serviço público». É o caso, por exemplo, de manter uma agência aberta em todos os concelhos, independentemente de serem rentáveis e não ter uma política agressiva de redução de efetivos, sobretudo, num período de crise prolongada.

O certo é que os prejuízos foram limitados pelos resultados com operações financeiras, nomeadamente a venda de títulos de dívida pública, que subiram 74% para 350 milhões. Já a margem financeira cresceu 14,4% para 1.188 milhões. Pela negativa, as imparidades baixaram 25%, mas corresponderam ainda a 716,5 milhões.

Tiago da Costa Cardoso também acredita que é possível assistir a uma inversão dos resultados ainda este ano. «Embora a solidez do banco tenha caído ligeiramente para os 11,1% no rácio de capital, estes valores não deverão sair prejudicados no futuro», acrescentando ainda que «o fato de o Plano Horizonte já ter sido alvo de provisionamento no exercício de 2015, pode levar a que os custos de pessoal sejam mais equilibrados em 2016, levando a que os resultados operacionais possam recuperar e transformar o resultado consolidado em positivo».

Ajuda pública

Em relação à data em que a CGD pretende devolver ao Estado a ajuda pública, o banqueiro diz apenas  «Qual é a preocupação com os Coco’s [instrumentos híbridos]? Vejo muita gente preocupada». O banco recebeu 1.650 milhões de apoio estatal em 2012: 750 milhões em ações e 900 milhões em instrumentos híbridos.

José de Matos garante que o banco deveria ter sido capitalizado apenas com ações e não com instrumentos híbridos, assim teria conseguido poupar cerca de 90 milhões de euros anuais.

Novo plano de financiamento

Para breve poderá estar um novo plano de financiamento e capital do banco. A garantia foi dada pelo presidente da instituição financeira ao revelar que a sua equipa já está a preparar esse plano para depois o discutir com a tutela. «Há aspetos que podem exigir a intervenção do Governo», salienta, acrescentando ainda que «obviamente que as necessidades de financiamento são tomadas em conta no plano que está a ser preparado por nós e que tem de ser conversado com o Governo. Há aspetos desse Plano de Financiamento e Capital que podem exigir a intervenção do Governo», diz.

O responsável recusou-se, no entanto, a adiantar pormenores, dizendo apenas que nunca iria divulgar o conteúdo de conversas com o acionista Estado. Mas salienta que nesse plano de financiamento e de capital, «o refinanciamento dos ‘CoCos’ será um aspeto a ser tido em conta».

Em relação a esse possível aumento de capital, o gestor da XTB lembra que «o aumento de capital vai sempre depender da estratégia do banco e do caminho a tomar, se se mantêm estas devoluções, que acarretam um custo de 90 milhões por ano ao Estado ou se cobrem com um aumento de capital», conclui.

sonia.pinto@sol.pt