Histórico: Porto perdeu em casa com o Arouca

É histórico. O Arouca nunca tinha vencido o Porto em casa (2-1). Começou com um golo aos 15 segundos. E o Benfica fica agora a seis pontos.

O último paraguaio a marcar um golo na liga portuguesa foi o ex-jogador do Benfica Óscar Cardozo, em abril de 2014. W. González, do Arouca, decidiu ontem, na sua estreia como titular no campeonato, tornar-se o sexto homem do Paraguai a bisar, selando assim uma vitória histórica – em cinco ocasiões, nunca tinha acontecido – no Dragão e deixando o Porto a seis pontos do Benfica.

Pois é, este novo Porto de Peseiro entrava ontem em campo a saber que o Benfica tinha vencido frente ao Belenenses (0-5) e não queria ficar para trás na corrida difícil (mas não impossível) da conquista do campeonato. Ganha jogos, apresenta um futebol menos ofegante e já está com um pé na final da Taça de Portugal. Só que este Arouca de Lito Vidigal, que não vencia fora desde a primeira jornada, é um clube que gosta de bater o pé aos grandes – os encarnados que o digam, saíram vergados diante dos arouquenses – e logo muito cedo. Muito cedo? Assim antes da primeira parte terminar ou coisa parecida? Na, na, muito cedo é aos 15 segundos. Sim, isso mesmo que está a pensar.

Faziam-se as últimas orações, apertavam-se os atacadores das chuteiras e as bancadas preparavam-se para começar a entoar os cânticos. Só que W. González decidiu armar-se em Speedy depois de receber um cruzamento de Zequinha e bateu Casillas aos 15 segundos do jogo – uma marca repetida pela terceira vez, depois de o Arouca ter marcado, nos dois primeiros minutos, aos rivais dos dragões.

Arranque atípico, equipa atordoada. o Porto foi abrindo espaço e o Arouca lá ia aproveitando, mas mais surpresas só mesmo no final. Já lá vamos. O empate, em jeito de quem bate com a cabeça na cabeceira da cama para acordar do pesadelo, veio de Aboubakar, que aproveitou um canto de Layún na esquerda para dizer “vamos lá acordar”. É o quarto golo no quarto jogo frente ao Arouca que o camaronês marca.

Os dragões foram carregando, com mais posse, e a cassete dos outros cinco jogos parecia querer repetir-se, só que tanto Casillas como Bracali gostam pouco de repetições. Jogava-se rápido, com muita circulação de bola, mas golos? Nem vê-los. Ao intervalo nada mais mudaria, nem mesmo a noite fria.

Parecia que teríamos uma segunda parte igualmente emocionante e talvez até com um ou outro pormenor surpreendente. Nem por isso. Nos primeiros minutos, o Arouca recuou, decidiu defender e o Porto sentia que a vitória acabaria por chegar. Até que chegamos aos 63’. Um golo mal anulado por fora-de-jogo de André André, que deu a bola para Brahimi e desviou para o 2-1. Estava o caldo entornado. Não só porque os homens de Peseiro já poderiam estar na frente, mas também porque, apenas três minutos depois, González (já se tinha esquecido dele?) bisou.

O defesa brasileiro Maicon decidiu brincar com a bola e tentar fintar Walter, só que não conseguiu. Fsshh, lá foi o peruano para rematar, ao poste esquerdo, e marcar o segundo golo. Um bis que não acontecia desde a época passada, pelos pés de Lima. Espere, espere. Se acha que o clube da Luz já apareceu demasiadas vezes neste texto, tome lá mais um dado: a última vez que o Porto sofreu dois golos foi frente ao Benfica (0-2).

O estádio começou a assobiar, Brahimi saiu chateado – para a estreia do ex–jogador do Marítimo Marega – e Peseiro teve de dar um berro a Maicon, que nunca mais recuperou do erro cometido. Estava montado um cenário de terror azul-e-branco. Sobre o jogo, o Arouca fechou-se a sete chaves e os dragões não mais encontraram o equilíbrio nem a receita para a baliza.

Mas o árbitro Rui Costa deu mais seis minutos. Não, aliás, foram oito. Então? Bom, foi o que foi e o Porto não recuperaria da derrota. Peseiro queixou-se do golo anulado, e Lito Vidigal de um cheirinho do que a sua equipa treina durante a semana. “O lance do primeiro golo foi um lance estudado muitas vezes”, disse no final do encontro. Acredite-se ou não, a verdade é que o Arouca marca há 11 jogos seguidos, já igualou a pontuação da época passada (28 pontos) e estreou-se a vencer em casa de um dos grandes.

O técnico que comanda os azuis-e-brancos ainda quis deixar outra ideia. “Queremos começar já a preparar o próximo jogo.” Qual? Aaaah, o clássico. Pois é, é que na próxima sexta-feira o Porto vai à Luz defrontar o Benfica, que ficou hoje a seis pontos. Este texto não era sobre os encarnados, mas vá, falta uma semana para o jogo e o adeus ao título parece querer bater à porta na Invicta.

jose.capucho@ionline.pt