O motivo é óbvio: o petróleo está a um preço baixo demais para tornar atraentes investimentos na pesquisa, sempre caros, sobretudo no mar. Nos últimos anos foram investidos quase 60 milhões de euros na prospeção de petróleo em Portugal e não são animadoras as perspetivas de se encontrar crude ou gás com valor comercial.
O barril de crude anda agora à volta de 30 e poucos dólares. Há oito anos custava 140. Para o corrente ano o Banco Mundial prevê uma pequena subida, para 37 dólares. Esta descida do preço do petróleo resulta de que a oferta de crude no mercado mundial excede a procura. O que põe problemas a países exportadores. Alguns deles precisam de ajudas de emergência, como o Azerbaijão, a Nigéria e Venezuela.
Os problemas dos produtores não estão a ser simetricamente compensados pelo estímulo que o petróleo barato era suposto dar ao crescimento económico nos países consumidores, como são os países europeus. Entre estes Portugal é um dos mais dependentes do petróleo como fonte de energia.
Não haverá uma subida significativa do petróleo ao longo deste ano. A tentativa saudita para ‘pôr fora de combate’ o petróleo de xisto dos americanos, mantendo a sua produção em máximos, falhou. Os produtores de petróleo de xisto conseguiram aumentar a sua produtividade e a maioria está operacional apesar da baixa do preço. E já exportam, até para Portugal.
A Arábia Saudita também pretendia prejudicar o Irão; mas, uma vez levantadas as sanções a Teerão por causa do acordo quanto ao nuclear, o Irão está a contribuir para o excesso de oferta petrolífera no mercado. Fala-se de novo em cortar a produção, envolvendo a OPEP e a Rússia, mas não será um acordo fácil e sólido – como evitar a batota habitual, produzindo acima do fixado?
A médio prazo o petróleo subirá de preço. É que no mundo foram suspensos investimentos em novas pesquisas de petróleo e na modernização de poços já existentes, num valor global estimado em 380 mil milhões de dólares. Ora, apesar do abrandamento económico na China e da maior eficácia no uso de produtos petrolíferos refinados (como nos combustíveis para carros), a procura mundial de petróleo irá subindo, embora lentamente, e mais tarde ou mais cedo excederá a oferta.
A menos, claro, que aconteça uma surpresa. Se, por exemplo, os esforços que estão a ser feitos para duplicar a atual capacidade de armazenagem das baterias para automóveis eléctricos, o consumo de gasolina e gasóleo poderá cair dramaticamente. Mas, mesmo aí, muito dependerá de como será produzida a electricidade: se vier sobretudo de centrais termo-eléctricas a fuelóleo, a poupança de crude não será grande.
Já uma perturbação política séria no Médio Oriente, por exemplo um conflito militar entre a Arábia Saudita e o Irão, poderá atirar o preço do petróleo para níveis muito altos, tal como aconteceu em 1979 com o segundo ‘choque petrolífero’, provocado pela guerra entre o Irão e o Iraque. Em suma, o mercado mundial do petróleo está rodeado de incertezas. Mas o petróleo dificilmente permanecerá barato durante muito tempo.