Sibongile Sambo. A importância de não aceitar um não

Como tantas outras jovens mulheres, a sul-africana Sibongile Sambo tinha um sonho. Queria conquistar os céus, ser assistente de bordo da South African Airways, a companhia aérea do seu país. Cresceu a alimentar esse sonho, mas quando chegou a altura de o pôr em prática recebeu a pior das notícias: não havia preparação possível que…

Podia ter desistido, apostado numa outra carreira, mas Sibongile Sambo queria mesmo fazer dos céus o seu escritório. E propôs-se a concretizar aquilo que poderia parecer impossível.

Se não podia trabalhar para uma companhia aérea, iria criar uma. (por esta altura o leitor provavelmente está a pensar que, se Sibongile tinha dinheiro para criar uma companhia aérea, não teria necessidade de trabalhar como assistente de bordo. A verdade é que não tinha esse dinheiro, mas procurou soluções.

Começou por vender o carro e pedir dinheiro emprestado à mãe, que lhe deu todo o dinheiro da reforma que havia recebido. E assim nasceu a SRS Aviation, a primeira companhia de aviação constituída 100% por mulheres negras, seja como assistentes de bordo, seja como pilotos. E onde baixinha também entra.

Ainda antes de criar a SRS Aviation, Sibongile trabalhou para grandes empresas, como a Telkom, a City Power e a De Beers, após se ter formado em Administração de Empresas, pela Universidade de Zululand, formação a que juntou outros cursos, sobretudo na área do marketing, estando atualmente a fazer o mestrado em Gestão de Tecnologia e Inovação na Aviação.

Foi em 2004 que a SRS Aviation descolou pela primeira vez, num voo ao serviço do governo sul-africano. Desde então, a partir de Joanesburgo, a SRS Aviation não parou de crescer. Atualmente disponibiliza inúmeros serviços, nomeadamente serviços personalizados de viagens de helicóptero e voos privados de luxo, para destinos internos, mas também para países como os Estados Unidos da América e a Alemanha. “Podemos vender um charter turístico por cerca de 1000 dólares, mas também podemos transportar um chefe de Estado, num aparelho VIP, até aos Estados Unidos e aí já pode custar 200 mil dólares”, explicou a empresária, que a revista “Fortune Magazine” já apontou como uma das líderes do futuro, à CNN.

Voar no feminino

A história pode parecer uma espécie de conto de fadas dos céus. Mas nem tudo foi simples para Sibongile Sambo, que teve de enfrentar inúmeras dificuldades para conseguir vencer numa indústria totalmente dominada por homens e por grandes e poderosas empresas. Mas, como a própria explicou à estação norte-americana, acabou por aprender a linguagem.

Depois das dificuldades iniciais, a SRS Aviation finalmente conseguiu uma licença da Autoridade Aérea da África do Sul, que permite à companhia operar voos comerciais. Em simultâneo, estabeleceu um acordo com um gigante da aviação sul-africana, a MCC Aviation, que disponibiliza os aviões e a assistência técnica necessária às operações conduzidas por Sibongile Sambo. Estavam reunidas as condições para criar a sua companhia de sonho, 100% feminina. A empresária começou então a patrocinar a formação de mulheres pilotos, tendo já conseguido ajudar três mulheres a obterem a sua licença. Mulheres que hoje trabalham para a SRS Aviation. “Estou onde estou hoje porque alguém investiu em mim. Esta é a minha oportunidade para investir noutras pessoas”. E as suas iniciativas começam a influenciar todo o mercado da aviação no continente africano: por exemplo, no ano passado a Ethiopia Airlines operou o seu primeiro voo totalmente tripulado por mulheres. “Aquilo que mais  me orgulha na nossa companhia, é que conseguimos penetrar numa indústria dominada por homens. A aviação está a crescer no continente africano. E nós vamos crescer com o crescimento de África”, concluiu, à CNN, a mulher que está a somar prémios de empreendedorismo, em África mas também no resto do mundo.

É certo que Sibongile Sambo nunca conseguiu concretizar o sonho de ser assistente de bordo. Nem sequer piloto. Mas os céus são seus.