Em vez de pagarem 519 dólares (462 euros) para viajar, por exemplo, de São Paulo para Lisboa, os passageiros podem pagar prestações de 51,90 dólares (46 euros). Uma outra possibilidade é viajar do Rio de Janeiro para Barcelona por dez tranches de apenas 42,90 dólares.
No entanto, esta é uma estratégia que não será alargada a outros mercados. Ao i, a TAP explica que “não está previsto alargar esta modalidade de pagamento a outros mercados. Noutros mercados existem modalidades de pagamento com cartões de crédito que permitem a liquidação do valor em prestações, mas no âmbito da relação do cliente com a entidade bancária”. Nos destinos disponíveis até ontem estavam cidades como Madrid, Londres, Veneza, Roma, Barcelona e Milão.
“Guerra Séria” No meio das alterações anunciadas pela companhia aérea está a suspensão das viagens entre o Porto e Milão, Bruxelas, Barcelona e Roma, por serem rotas deficitárias. A decisão não foi vista com bons olhos pela Associação Comercial do Porto (ACP), que considerou lamentável o fim das rotas. Uma posição que contou com o apoio de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto. O autarca relembrou, no início desta semana, que “o governo disse que a razão fundamental de reassumir 50% da TAP é para que haja um ‘hub’ no Porto. É preciso um sinal, dando ordens à administração da TAP para que não sejam interrompidas as ligações”. No entanto, o executivo de Costa não vai interferir na decisão da TAP de suspender ligações do Porto a quatro cidades europeias. Até porque as decisões sobre as rotas da TAP são da comissão executiva, apesar de o executivo de Costa ter conseguido a recuperação de 50% da TAP, num acordo com os acionistas privados, Humberto Pedrosa e David Neeleman.
Para Rui Moreira, a decisão de suspender as rotas já em março é prejudicial para o norte do país. Para o presidente da Câmara do Porto trata-se de uma luta que tem de ser travada. Ontem, durante a reunião de câmara, Rui Moreira fez saber que admite mesmo apelar à população do norte do país que boicote a TAP. “Temos sido uns carneiros. Temo-nos deixado iludir com promessas sucessivas”, deixa claro, fazendo saber ainda que tem feito “contactos com outras companhias aéreas”.
O autarca vai mais longe e acusa a TAP de anunciar 16 voos diários entre Porto e Lisboa apenas porque existe “uma frota de aviões parada no Brasil (Azul, companhia de David Neeleman)”: “É o interesse da White que está a ser privilegiado”, acusa. Para o autarca, o interesse e a estratégia são claras: a ideia é tirar passageiros do Porto, sobrelotar o Aeroporto de Lisboa e levar à construção de um novo aeroporto, uma nova ponte e até “do TGV”.
Esta terça-feira, depois de o executivo de Costa ter ignorado os apelos de Rui Moreira, a Câmara do Porto acusou de novo a TAP de ter decido “discretamente” acabar com o voo da noite Lisboa/Porto, que servia para os passageiros que chegavam de voos de médio curso.
Recorde-se ainda que a TAP anunciou recentemente uma ponte aérea entre Lisboa e Porto, a partir do mês de março, altura em que prevê descontinuar vários voos de médio curso a partir do Aeroporto Francisco Sá Carneiro.
BE contra a suspensão No dia 1 de fevereiro foi apresentada uma moção na Assembleia Municipal do Porto, cuja versão final do documento foi aprovada por 31 votos a favor, 11 contra (do PSD) e 3 abstenções. “A intenção dos donos da TAP (após privatização), de suprimirem, a partir de 27 de março, voos para Barcelona, Milão, Roma e Bruxelas, de concentrarem todas as rotas para Estados Unidos, Venezuela ou Brasil em Lisboa e estabelecerem uma nova ligação Vigo-Lisboa, esvaziando o tráfego proveniente da Galiza, constitui um enorme ataque ao aeroporto do Porto, à economia e ao turismo da região Norte”, pode ler-se no documento, que sublinha ainda a “discordância pelos sucessivos aumentos de taxas e pela deliberada diminuição dos voos a partir do aeroporto do Porto”. O documento reclama ainda “a intervenção do governo e das entidades responsáveis pela aviação civil, para que adotem as medidas necessárias para assegurar o desenvolvimento do aeroporto do Porto e das suas ligações intercontinentais”.
Recorde-se que também a Associação Comercial do Porto (ACP) exigiu a António Costa o compromisso de serviço público na TAP. Numa carta dirigida ao primeiro-ministro, Presidente da República e grupos parlamentares, questiona o “empenho e determinação” de António Costa em assegurar às empresas e aos agentes económicos do Porto e do Norte, bem como aos cidadãos, uma TAP de serviço público.
Nuno Botelho, presidente da ACP, acredita que a decisão de suspender estas rotas acentua, “dramaticamente, o processo de desinvestimento daquela companhia na região do Norte”.
PS quer ouvir ministro O PS já fez saber que quer ouvir “com caráter de urgência” o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, sobre o acordo alcançado com o consórcio Atlantic Gateway para o Estado ficar com 50% do capital da TAP, por 1,9 milhões de euros.
Os socialistas querem ouvir as “implicações para o futuro da empresa”, já que se trata de uma das maiores empresas exportadoras. Até porque foi o ministro Pedro Marques que liderou todo o processo de negociação com os privados para reverter a privatização fechada pelo anterior governo. Um negócio que culminou com uma nova distribuição do capital da transportadora aérea, com o Estado a ficar com 50% do capital e voto de qualidade nas decisões que passem pelo conselho de administração.
No dia em que foi assinado o memorando de entendimento, os partidos da oposição manifestaram-se “muito preocupados” com os contornos da alteração do contrato da TAP, anunciando a intenção de requerer com urgência a ida do Pedro Marques ao parlamento.
Entre as vozes que já se levantaram contra este acordo está Pedro Passos Coelho, que sublinha que “afinal não são mais de 50% e os privados é que mandam”. Também Paulo Portas alertou que este acordo é “um convite à discórdia” e implica “um encargo superior” para os contribuintes.