Estados de Alma

Migrações. Assisti no passado dia 27 de Janeiro a um debate, organizado pelo Centre for Turkish Studies de Londres, sobre os custos da crise dos refugiados da Síria. O debate teve lugar na Câmara dos Comuns do Parlamento britânico e foi patrocinado pela deputada trabalhista Yvette Cooper. O debate foi muito útil para colocar o…

Mas, noutro plano, o debate foi grandemente mistificador. Apercebi-me da existência uma tese – aparentemente popular entre os antropólogos – de que migrantes são migrantes não existindo, portanto, qualquer diferença entre os que migram por motivos económicos ou aqueles que, como no caso dos refugiados da Síria, fogem de uma carnificina. A ideia, ao que entendi, é que são iguais porque a todos é preciso assegurar o acesso a necessidades básicas como alimentação, alojamento, saúde ou educação. Para um economista esta tese não resiste a um escrutínio superficial: a ‘pista’ é o verbo ‘assegurar’ – num caso espera-se que sejam os contribuintes a bancar o grosso da despesa durante um lapso temporal significativo, enquanto que no outro essa despesa tenderá a ser financiada pelos próprios migrantes.

Os migrantes económicos, ao contrário do que acontece com os refugiados, chegam paulatinamente, têm todos os incentivos a ajustarem-se social e culturalmente e aportam ‘um valor acrescentado’ que pode ser percebido pelos eleitorados anfitriões. Ignorar as diferenças entre uns e outros impede entender as restrições que os processos democráticos e as opiniões públicas nos países de acolhimento colocam e, portanto, dificultam encontrar soluções realistas e sustentáveis para a dramática crise dos refugiados. Não chega proclamar, com superioridade moral, que os eleitores estão mal informados e não têm razão porque, no fundo, como foi afirmado, se recuarmos suficientemente no tempo ‘todos fomos migrantes’. Os medos, receios e atavismos podem não ter razão, mas têm certamente razões. Ignorá-los como produto de ignorância é arrogante e um péssimo ponto de partida.