Diogo era um arquiteto extraordinário, porque era uma pessoa invulgar. Os seus olhos brilhavam sempre de humor e curiosidade como tentando apreender o mundo. Foi crítico, pensador, jornalista no extinto semanário “Já”, um dos diretores de uma das mais incríveis revistas que se criou em Portugal, “A Prototypo”, em que as páginas de design revolucionário convivia com a reflexão aprofundada sobre a arquitetura.
O arquiteto Joaquim Moreno, doutorado na Escola de Arquitetura da Universidade de Princeton, amigo do falecido, diz dele, ao i : “O Diogo era um pessoa central da hipótese de renovação da cultura arquitetónica em Portugal, tornando-a mais densa e aberta”. Esta capacidade de Seixas Lopes de não se ficar por uma ideia curta da arquitetura, essa ânsia de integrar desafios e saberes estava presente em todas as ações dele. “Não era nada um arquiteto convencional ou era convencional no sentido de ser um grande arquiteto apostado na transformação da vida à sua volta, era um arquiteto expandido”, afirma Joaquim Moreno. Essa preocupação de ir mais além está presente na sua tese de doutoramento no prestigiado Instituto Federal da Universidade Tecnologia de Zurique, o trabalho de que resultaria o livro “Melancholy and Archictetures. On Aldo Rossi”, considerado, pelo “The Guardian”, como uma das obras escritas do ano no domínio da arquitetura.
A sua tese de doutoramento era todo um programa no sentido dessa arquitetura complexa e aberta à vida. “Quando me confrontei com a necessidade e a vontade de fazer um doutoramento, a primeira ideia que me surgiu foi de fazer alguma coisa em relação a um determinado sentido de perda, no início dos anos 1970, que era mais vasto que a arquitetura e que estava ligado àquilo que se chamou Itália”, dizia Diogo Seixas Lopes, numa entrevista ao “Público”, citada na notícia sobre o seu falecimento. O desafio que o arquiteto se colocava é que de maneira a Itália dos anos de chumbo [período da ressaca revolucionária e terrorismo que se sucedeu às revoltas do fim dos anos 60, os chamados anos de fogo] teria condicionado a cultura da arquitetura.
Diogo Lopes fundou um atelier com Patrícia Barbas, sua mulher, em 2006. Foram responsáveis, juntamente com o arquiteto Gonçalo Byrne, pelo projeto de requalificação do Teatro Thalia que obteve inúmeras nomeações para prémios internacionais. Venceram recentemente um concurso para uma torre de 17 andares na Avenida Fontes Pereira de Melo. Diogo Seixas Lopes assumia a característica abrupta e polémica desse tipo de intervenção arquitetónica que assinalavam, segundo ele, um nascimento de uma certa época, e eram uma espécie do espelho dessa mudança temporal: “Este espelho não acontece naturalmente e por isso há uma certa violência nestes gestos”, justificava. Para ele o trabalho da arquitetura não era só conformar-se à cidade existente, era também produtor da nova cidade.
Até morrer, esteve envolvido na preparação da próxima Trienal de Arquitetura de Lisboa, de que era um dos curadores. Trabalhava também no Centro Cultural de Belém, como consultor, fazendo a programação das exposições da Garagem Sul. Dalila Rodrigues que foi administradora do CCB e responsável pela criação das exposições de arquitetura da Garagem Sul, falou ao i, sobre esse trabalho com Diogo Seixas Lopes: “foi um privilégio trabalhar com o Diogo e poder contar com a sua inteligência e pensamento singular”, comovida revela que o arquitecto trabalhou até ao fim, “organizamos e projetamos as exposições de arquitetura, desde Dezembro de 2012, até à dedicada ao arquiteto Carrilho da Graça que terminou este domingo, e a que irá inaugurar, ainda este ano, sobre o arquiteto Souto Moura”.
Era filho do realizador Fernando Lopes e da jornalista Maria João Seixas. Não é conhecida a data do seu funeral. O seu corpo estará em câmara ardente no sábado no Teatro Thalia, tendo a família pedido que se respeitasse a sua privacidade.