Este é o OE de esquerda? Não parece nada.

Sobre o documento híbrido em que se converteu o Orçamento do Estado para 2016, ou a sua extensa errata, António Costa assegura que medidas como os quase mil milhões de aumento de impostos indiretos, do preço da gasolina ao do tabaco entre outros, «não terão efeito negativo no conjunto da economia, no rendimento dos portugueses».

Jerónimo de Sousa e o PCP fazem as suas políticas do Governo vertidas no OE: «Estamos a devolver a esperança aos portugueses». E Mariana Mortágua com o BE afiançam que «não é possível vender este Orçamento como um orçamento que aumenta a carga fiscal». Costa, Jerónimo e Mariana acreditam mesmo no que dizem?

A dúvida é pertinente, pois todos eles juraram a pés juntos que este seria o OE que ia «virar a página da austeridade», pôr «fim ao empobrecimento». E afinal… Afinal, a reposição de 447 milhões de salários aos funcionários públicos é parcialmente anulada por 430 milhões a mais em carga fiscal sobre os combustíveis e os automóveis (ou será que nos querem fazer crer que há muitos funcionários públicos ou famílias portuguesas sem carro?). Afinal, os 135 milhões devolvidos nas taxas sociais (RSI, CSI) são ultrapassados pela sobrecarga de 145 milhões sobre o tabaco (ou será que os pobres não fumam?). Afinal, os parcos 63 milhões a mais no pagamento de pensões são menos de metade do que os 135 milhões que o Governo PS se arrependeu à última hora de devolver aos trabalhadores com a baixa da TSU. Afinal, os impostos ideologicamente de esquerda – mais 50 milhões sobre a banca, 125 milhões sobre as empresas ou 50 milhões sobre o IMI do imobiliário – são pífios e representam menos de 1% da receita fiscal.

Este é um OE de esquerda? Não parece. O facto é que esta é a maior carga fiscal de sempre (47 mil milhões de euros) e que a austeridade aumenta 186 milhões (1.577 em receita fiscal contra 1.391 em devoluções de rendimentos). E, já agora, o PCP e o BE aprovam o compromisso orçamental de reduzir mais 10 mil funcionários públicos e assim poupar 100 milhões ao Estado?

Eles bem fingem que sim. A ver se isto dura. Andam a enganar-se a si próprios. E a enganar-se uns aos outros. Para, pelo meio, tentarem enganar-nos a todos.