Durante quatro semestres trocou a bola pela universidade. Começou por tirar um curso de gestão, mas não era aquilo que queria para o futuro, por isso, acabou por formar-se em ciências do desporto. E não demorou muito tempo a voltar a pisar os relvados, desta vez fora das quatro linhas. Tornou-se observador do Augsburgo e foi treinador adjunto nos escalões jovens do TSV 1860 München, até ter sido contratado para a equipa de juniores do Hoffenheim (2010). Foi aí que toda a sua vida mudou.
Aos 28 anos, Nagelsmann foi convidado a assumir o comando técnico da equipa principal e tornou-se no treinador mais jovem da história do campeonato alemão – Bernd Stöber tinha apenas 24 anos quando orientou o Saarbrücken num jogo frente ao Colónia em 1976, mas era interino. Muito por culpa dos problemas cardíacos do técnico Huub Stevens, de 62 anos, que levaram ao afastamento inesperado do cargo.
“Julian, pode dar um novo impulso à equipa”, afirmou Alexander Rosen, diretor desportivo do Hoffenheim.
Adepto de equipas como o Barcelona, Arsenal e Villarreal, que diz praticarem o “futebol mais atrativo da atualidade”, Nagelsmann era o treinador dos juniores do clube, onde se sagrou campeão em 2014 e finalista vencido na última época. “A minha filosofia é atacar os adversários perto da sua baliza, porque dessa forma o caminho para o golo passa a ser mais curto”, explicou numa entrevista recente à imprensa alemã. A mesma onde revelou também ter rejeitado uma proposta para trabalhar no Bayern Munique.
Apesar da juventude – quatro jogadores são mais velhos (Alexander Stolz, Eugen Polański, Kai Herdling e Kevin Kurányi) -, Nagelsmann mostrou-se confiante perante o “enorme desafio” que tem pela frente: o Hoffenheim luta para não descer de divisão, no penúltimo lugar da tabela, com um ponto de avanço para o ‘lanterna vermelha’ (Hannover) e cinco de atraso para o antepenúltimo classificado (Werder Bremen).
“Não tenho medo. Estou ansioso por trabalhar com a equipa e espero dar-lhe um novo estímulo”, afirmou o técnico, que assinou contrato até 2019. E deu mesmo um novo estímulo. Logo na estreia, amealhou um ponto na visita ao rival Werder Bremen (1-1) e inverteu a série de duas derrotas consecutivas.
Mourinho, Wikipédia e a inspiração em Michael Jordan
Considerado um prodígio da tática e apelidado de “baby Mourinho” por um antigo internacional alemão, Nagelsmann teve de vir a público meter um travão na euforia dos adeptos, que o comparam ao Special One português: “Tim Wiese [antigo guardião do Hoffenheim] deu-me essa alcunha, mas há uma grande diferença entre nós e, de resto, não conheço Mourinho pessoalmente”.
O principal objetivo, para já, é salvar o clube: “Importo-me mais com o que vão escrever na Wikipédia no final do campeonato e espero que seja pela permanência do Hoffenheim na Bundesliga”, diz o jovem treinador, que teve como mentor, nos tempos em que analisava os adversários do Augsburgo, o actual técnico do Dortmund. Outro caso de juventude aliada a talento.
“Ele é muito questionador e trabalhador. Teve um sucesso excepcional como treinador de categorias base. Estou muito feliz por ele e desejo-lhe o melhor”, afirmou Thomas Tuchel, líder do único rival do Bayern Munique em solo alemão.
O sucessor de Klopp, tem 41 anos e no currículo apenas uma experiência profissional no Mainz, onde esteve durante cinco anos (2009-14) – antes treinou os juniores do Estugarda. Nada que o tenha impedido de reerguer a ‘muralha amarela’ no Signal Iduna Park.
Criativo e adepto de um futebol de ataque, Tuchel tem em Michael Jordan, considerado por muitos como o melhor basquetebolista de sempre, a sua principal inspiração. Original? O melhor vem agora. À chegada a Dortmund, surpreendeu ao afixar uma folha A4 na parede do balneário. Por entre várias coisas, decidiu proibir os seus jogadores de comerem massas, pizzas e carne de porco. Já os treinos, com os novos métodos de trabalho, passaram a ser dados num campo em forma de diamante.
Estranho? Sim. Mas os resultados estão à vista. O Dortmund recuperou o estatuto conquistado nos tempos áureos de Klopp e está novamente na luta pelo título. Hoje surge como a única equipa capaz de ombrear com o Bayern de Guardiola (45 anos), que foi capaz de transmitir toda a sua irreverência e personalidade para os bávaros. O bónus do catalão foi o tiki-taka made in Barcelona.
O adeus da ‘velha guarda’?
A velhice parece estar a deixar de ser um posto. E os clubes estão a começar a mudar o paradigma das últimas décadas. A juventude, aliada a novas mentalidades e ideias, parece estar a meter em xeque os treinadores com mais experiência e idade no currículo. Alex Ferguson e Jupp Heynckes já fazem parte do passado. Wenguer para lá caminha e Van Gaal admite que se irá reformar em breve. São apenas alguns exemplos numa Europa do futebol com cada vez mais jovens a despontar nos bancos de suplentes.
Ao olharmos para as principais Ligas de futebol da Europa (quadro ao lado), verificamos que 29 treinadores estão abaixo da fasquia dos 45 anos. Ou seja, 38% num universo de 76 técnicos. Um sinal de que os tempos estão a mudar e os clubes estão a apostar cada vez mais na juventude.
Na I Liga (média etária de 48,16 anos), essa aposta é simbolizada pela confiança depositada pelo Belenenses no espanhol Julio Velázquez, o mais novo do campeonato (34 anos). Uma aposta que se revelou ganha. Em dois meses no Restelo, conquistou 15 pontos e apesar de ter chegado a Belém a meio de dezembro convenceu os dirigentes do Belenenses a renovar-lhe contrato até 30 de junho de 2018.
Ao olharmos para a classificação, verificamos ainda que seis jovens treinadores estão dentro do top-10 nacional, com destaque para Rui Vitória que comanda o Benfica na perseguição ao líder Sporting.
A tendência mantém-se em Espanha (46,60) e na Alemanha (45,66), com a Premier League (53,40) e a Série A (52,40) a revelarem-se as mais intermitentes em mudarem o paradigma. Duas Ligas onde a ‘velha guarda’ continua a fazer escola. Até quando?