‘Um trabalho nada fácil de fazer e publicar’

A organização do mais importante prémio de fotografia do mundo recebeu este ano 82.951 imagens de 5.775 fotógrafos de 128 países. Mas nem no meio desta panóplia de boas fotografias as de Mário Cruz passaram despercebidas. O português venceu na categoria Temas Contemporâneos, com uma reportagem que denuncia formas de escravatura e maus tratos de…

«Tinha recebido um email há duas semanas a avisar-me que estava entre os finalistas, mas como não voltaram a contactar-me já tinha posto a hipótese de lado», conta ao SOL o fotógrafo  da Agência Lusa. Soube da vitória ao mesmo tempo que toda a gente, quando os nomes foram divulgados no site do World Press Photo. «É uma sensação indescritível», garante, «não só por saber que ganhei, mas principalmente por não ter sido um trabalho nada fácil de fazer e publicar».

Mário teve o primeiro contacto com a história em 2009, quando estava na Guiné a fazer a cobertura das eleições. «Foi aí que ouvi falar das crianças que desapareciam e que estariam a ir para o Senegal para servirem de escravas para líderes muçulmanos», conta. A vontade de retratar esta realidade em imagens foi mais forte e, depois de seis meses de investigação e contactos com organizações e o Governo do Senegal, pediu uma licença sem vencimento na Lusa para seguir viagem.

«Apesar de ter lido imenso sobre o tema e de pensar que estava preparado, a verdade é que nada te prepara para o que vais encontrar», garante. As fotografias registam a preto e branco centenas de crianças enclausuradas, acorrentadas e a mendigar. São mantidas em «daaras», escolas para onde são enviadas supostamente para terem uma educação muçulmana, e sobre as quais a polícia desconhece muitas vezes a localização.

Dos dois meses de licença, Mário passou mais de metade em viagem e o restante a escolher e editar as fotografias. Apresentou-as  pela primeira vez no festival de fotojornalismo de Perpignan, no sul de França, e não tardou a choverem ofertas de publicação. Recusou o New York Times e a National Geographic, para dar o exclusivo a um meio que prefere não divulgar. O processo arrastou-se e, como solução de última hora, preferiu voltar-se para a Newsweek. Por coincidência, o trabalho acabou por ser publicado na véspera de se saber quem eram os vencedores. Para já, as fotografias estão disponíveis na edição online, estando prevista a publicação na versão impressa da revista.

«O bom do prémio é a visibilidade que dá ao trabalho e, não vou estar com falsas modéstias, ao fotografo também», admite.

Foto de refugiados dá prémio

O fotógrafo Warren Richardson venceu o Grande Prémio do concurso deste ano do World Press Photo. O júri escolheu a reportagem do fotógrafo australiano feita em agosto do ano passado, quando acompanhou um grupo de refugiados na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. A foto é «poderosa pela sua simplicidade», disse o presidente do júri.

A imagem, intitulada ‘Hope of a new life’ (’Esperança de uma nova vida’), foi tirada a preto e branco e mostra um homem a passar um bebé pelo buraco na vedação de arame farpado.

Na noite em que a foto foi tirada, depois de passar cinco dias acampado com os refugiados, Warren assitiu à chegada de quase 200 pessoas que se deslocavam escondidas entre as árvores, ao longo da linha de fronteira. Primeiro fizeram passar as mulheres e as crianças, depois os homens e os idosos. «Brincamos ao gato e ao rato com a Polícia a noite toda», descreveu  o fotógrafo, citado no comunicado da World Press Photo. «Eram três da manhã quando fiz a foto. Não podia usar o flash, porque a Polícia tentava encontrar estas pessoas. Aproveitei apenas a luz da lua».