Do que tem sido revertido por Costa, o que deve ser reposto pela direita mal regresse ao poder?
Há uma coisa que não sabemos: o dia e a hora do fim deste governo. Portanto, não posso dizer se daqui a seis meses, um, dois ou três anos estamos em condições de repor ou desfazer o que quer que seja. Mas reputo de muito grave as reversões na concessão dos transportes em Lisboa e no Porto. Foi uma machadada na credibilidade do país e uma concessão claríssima à força sindical do PCP.
Admitiria reverter a TAP?
O caso da TAP é um caso típico de governação socialista. O Estado põe lá dinheiro, assume o risco e não tem uma palavra a dizer na gestão porque a gestão é privada. É pura ideologia. Por isso, sim: admito reavaliar, perceber quais são as circunstâncias, como está a empresa, se está a funcionar, qual é a exposição do Estado à dívida da empresa, se teve que meter dinheiro, se conseguiu renovar-se, se conseguiu investir. Se tudo estiver a funcionar, então não é preciso ter lá o Estado.
Incomoda-a a participação chinesa no consórcio Gateway?
Incomoda-me é que isso não tenha sido revelado com transparência e lealdade. Não vejo lei a orientar este processo. Sabemos lá se outros candidatos com estas condições não quereriam apresentar outras propostas?
Foi o seu governo que vendeu a TAP.
E bem. Mas vendemos mais do que 50%. Imagine que com a venda inferior a 50% da empresa havia mais gente a aparecer? Uma coisa é o que estava firmado na lei e que agora está a ser renegociado e cujos termos não se conhece.
A suspensão das rotas do Porto não é a prova de que o Estado deve ter uma palavra a dizer na defesa do desenvolvimento de uma região?
Claro, na medida em que negoceia os cadernos de encargos.
O governo deu liberdade para acabar com rotas não lucrativas mas que afetam o interesse da região.
Não creio que o desenvolvimento do Porto esteja dependente da TAP. E isso provou-se no passado recente: os voos das low cost privadas mudaram radicalmente a cidade. Não me venham dizer que a TAP é imprescindível e que não há outras maneiras e outros caminhos. Isso é negar a realidade.
Passos admitiu que quando saiu do Governo o Banif dava lucro. No final de 2014 Bruxelas alertou para a necessidade de dividir o banco bom e o mau. Em que ficamos?
Sabíamos o que era publicado: que a Comissão Europeia estava a investigar o banco. Mas as questões da banca nunca foram aprofundadamente discutidas no Conselho de Ministros. A visão do Governo e do primeiro-ministro era que o Governo, como órgão político, não deveria interferir num mercado que é regulado, que tem um regulador autónomo e independente do Governo, que é o Banco de Portugal, a quem cabe encontrar soluções.
Preocupa-a a possibilidade da banca portuguesa ir parar toda às mãos dos grandes grupos espanhóis?
Preocupa-me. Hoje em dia para aprovar investimentos acima de determinados valores já não é Lisboa que decide. É Madrid. Isso significa que o apoio ao investimento das empresas portuguesas não terá uma preocupação tão atenta. Por isso, o CDS defende que a Caixa Geral de Depósitos deve continuar a ser um banco público. Isso foi negociado no acordo de coligação com o PSD. Não creio que alguém venha defender o inverso.
Há algum dossiê na Agricultura que vá seguir com particular atenção?
A reprogramação em Bruxelas do programa de desenvolvimento rural. Capoulas Santos parou a reprogramação – que visava reforçar em 200 milhões este programa durante cinco anos – porque não tem peso político nem forma de lá pôr dinheiro. Quando se dá dinheiro para responder às exigências da esquerda, depois falta para o investimento produtivo.
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