Hoje em dia, não há semana que passe que não se oiça falar de mais uma dieta, mais um superalimento, mais uma restrição alimentar. Os fundamentalistas da comida parecem brotar do chão como cogumelos. E se formos a prestar atenção a tudo o que se diz por aí, é bem provável que não nos sobre nada para comer sem ser… bem, nada, apenas o ar. O leite, que sempre fez parte da nossa alimentação, é agora o inimigo número 1. Logo seguido, de muito perto, pelo glúten. Ou seja, aquele café com leite e pão quentinho com manteiga que tornam as manhãs mais fáceis para o comum dos mortais são para esquecer. E por aí fora. No fundo, o que mais se ouve hoje em dia é que andámos anos e anos e anos a comer as coisas erradas. A intoxicarmo-nos. Não consigo deixar-me convencer por este discurso assim tão radical. Aliás, sempre que oiço uma destas conversas mais fundamentalistas, sinto em simultâneo uma vontade descontrolada de comer precisamente tudo aquilo que me estão a dizer que não devemos nem ver, quanto mais ingerir.

Não quero com isto dizer que não devemos ter cuidados com o que comemos. Bem pelo contrário. Acho que devemos estar muito atentos ao que comemos e que devemos prestar atenção ao nosso corpo e aos sinais que ele nos vai dando. E mais: devemos usar os instrumentos e conhecimentos que o progresso vai pondo ao nosso dispor – como os muito falados testes de intolerâncias alimentares que são o foco da reportagem deste B.I. -, mas depois há que saber parar, respirar fundo e tomar decisões. Com conta, peso e medida. Chegar a casa, deitar fora tudo o que temos na despensa e alterarmos, de forma radical, todos os nossos hábitos alimentares também não me parece uma opção propriamente saudável.