Num swap de taxas de juro, uma das partes, por exemplo, (neste caso, o Santander) compromete-se em financiar a outra (as empresas de transportes) a taxa fixa, recebendo, em troca (swap), e por exemplo, o inverso das taxas variáveis, na zona-euro as Euribor. Como disse, não tenho acesso aos contratos, mas a estrutura não deve ser muito diferente desta.
Enquanto as taxas Euribor estiveram altas, tudo correu pelo melhor para as empresas de transportes, que viram o que tinham a pagar ao banco diminuir. Mas, à medida que as Euribor foram descendo (e hoje são negativas, algo que os manuais de economia diziam que não podia acontecer), o que as empresas de transportes deviam pagar ao Santander foi sempre subindo. Maria Luís Albuquerque tentou resolver os problemas renegociando os swaps com os bancos, mas o Santader recusou, e daí a condenação e a enorme indemnização que o Estado português foi condenado a pagar.
É sempre mais fácil fazer o totobola à segunda-feira, mas há coisas que parecem graves, nomeadamente a falta de conhecimento dos mercados financeiros de pessoas que ocupam lugares de responsabilidade. Há poucos anos, uma série de Caixas de Crédito Agrícola Mútuas ficaram em apuros devido a produtos que lhes tinham sido vendidos pelo BPP, e foram resgatadas, discretamente, pelo Estado. Os casos BES e Banif arrastam-se. Agora, temos este novo caso da indemnização a pagar pelo Estado português, convém perguntar: os gestores dessas empresas públicas sabiam o que estavam a fazer?
Como eu li no “The Economist” há muitos anos: ”dá 1.000 dólares a um bancário da banca comercial, e ele irá investi-los prudentemente; dá 1.000 dólares a um bancário da banca de investimento, e acabas com lixo tóxico”. Neste caso, é claro que as empresas de transportes não equacionaram todas as opções que podiam acontecer, e agora quem vai pagar os 1,8 mil milhões de euros somos nós, com os nossos impostos. As pessoas deviam saber que os mercados financeiros são imprevisíveis e instáveis, mas agora já sabem, com o dinheiro de todos nós.