Animais no futebol, um elefante e Jesus

Maria Luís Albuquerque aceitou um convite para uma consultora financeira que ganhou dinheiro com o Banif. O negócio aconteceu em 2014, a senhora era ministra das Finanças e o Estado tinha uma participação maioritária no banco. Não foi a primeira a fazê-lo, não será a última.

Mais uma vez, o problema de a política ser exercida por pessoas que não são financeiramente independentes nem têm princípios éticos muito firmes. É a política como mera alavanca. Achei que Maria Luís poderia chegar à liderança do PSD. Para ela, não era decerto o mais importante.

2.Grande polémica com João Soares. A constatação óbvia de que é um elefante numa loja de cristais e que é dono de uma arrogância que já o fez perder-se politicamente. Não aprendeu nada com a travessia no deserto, será tarde para que haja esperança nisso.

Mas João Soares foi também um dos melhores presidentes da Câmara de Lisboa. Mobilizou, pôs a cidade a mexer e encontrou novas formas de ação política que foram injustamente esquecidas.

Caiu o Carmo e a Trindade por ter exonerado António Lamas de presidente do CCB e não entendo as razões substantivas para o chinfrim. O senhor empenhou-se na implementação do chamado Eixo Belém-Ajuda e deu a entender que faria depender a sua continuidade da aprovação do projeto (gestão conjunta dos museus e monumentos naquela zona central).

Mostrou firmeza, aplausos por isso. Porém, existia um detalhe: tanto o Governo como Fernando Medina criticaram ferozmente a ideia. Ora, se João Soares tinha o instrumento para forçar a saída de António Lamas porque raio não o haveria de o usar?

Quanto aos ataques de que foi alvo Elísio Summavielle (como se fosse um diletante que Soares escolhera apenas por ser seu amigo), uma breve palavra. Elísio dedicou a sua vida à defesa do património e à cultura, foi um bom secretário de Estado e recusou convites que lhe garantiriam independência financeira por acreditar no serviço público.

Também por isso, ver pessoas como Teresa Patrício Gouveia, cujo percurso foi feito à sombra de todos os poderes, a criticar o processo, provocou-me um sorriso de pena e enfado.  

3.A reação ao cartaz do BE em que Jesus aparecia a fazer campanha pela adoção por casais do mesmo sexo, foi excessiva. Uma parte importante dos movimentos religiosos (quaisquer que sejam) tem uma relação com a ideia de transcendência pouco estimulante – a maioria dos que acreditam (onde me incluo) parece continuar a preferir ver a relação com Deus, e com a imagem de Jesus, como algo que exclui à partida qualquer sentido de humor.

Gostei do cartaz? Não o teria feito ou aconselhado. Mas era motivo para tanto barulho? Tanto como a imagem de Maomé no Charlie Hebdo. A tal que fez o mundo ocidental sair à rua a proclamar que éramos todos Charlie – e certamente que alguns que agora criticaram o cartaz se incluem nos que compraram velinhas na altura.   

4.Gosto de futebol, verei o Sporting-Benfica deste sábado com atenção e entusiasmo, mas a violência do que se diz à volta dos jogos leva-me a uma conclusão triste: o futebol é o único lugar em que não existe democracia possível.

Pessoas que nos habituámos a ver como impolutas, ponderadas, amantes da liberdade, com sentido ético e uma ideia moral, tornam-se verdadeiros animais quando discutem futebol. Basta ver os programas de televisão em que se insultam como se aquilo que dizem não fosse um insulto, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Será que o futebol nos faz ser o que tentamos esconder quando nos comportamos no resto do dia?

 luis.osorio@sol.pt