A política de corte de custos levada a cabo pelos bancos nos últimos anos provocou uma redução da generalizada empregabilidade do setor, com um aumento significativo da taxa de desemprego dos bancários.
Estes profissionais são dos grupos de trabalhadores com maiores subidas de inscrições nos centros de emprego. E, ao que o SOL constatou, muitos destes ex-bancários estão agora inscritos nas agências de recrutamento e de trabalho temporário.
Aliás, a Associação Portuguesa das Empresas do Setor Privado de Emprego considera que o trabalho temporário pode ser visto como uma porta de entrada no mercado laboral, sobretudo em segmentos como os jovens e os mais seniores.
«São estas duas franjas que apresentam o maior peso na lista de inscritos do Instituto de Emprego e Formação Profissional e os que têm maior dificuldade na colocação. Hoje em dia o trabalho temporário é uma das portas, se não a grande porta, de entrada para essas pessoas», salienta a associação.
O recurso a estas empresas é ainda facilitado devido ao grau de especialização que algumas delas já apresentam, trabalhando acima de tudo com quadros médios. Por isso mesmo, reconhecem que é possível «integrar profissionais verdadeiramente especializados nas suas áreas de atuação», em que depois uma grande percentagem consegue integrar-se nos quadros após o período em trabalho temporário.
Precariedade
Em relação às críticas que são feitas a este setor quanto aos vínculos dos trabalhadores, as empresas que atuam no setor lembram que este mercado conta com contratos legais, com remunerações similares às que se praticam no mercado para as mesmas funções, descontos para segurança social, subsídios de férias e Natal, portanto como se um contrato a termo direto com a entidade empregadora se tratasse.
Aliás, de acordo com as empresas que atuam no mercado, o financeiro é um dos setores – juntamente com o farmacêutico, grande consumo e tecnologias – que mais está a contratar.
Mas nem sempre a tarefa de integração é fácil. Ao que o SOL apurou, há casos de ex-bancários que estão a candidatar-se a funções de comerciais, nem sempre com base salarial garantida. «É frequente este tipo de profissionais, com alguns anos de experiência na banca, estarem disponíveis para entrevistas em que recebem à comissão. Numa primeira fase querem salário base, mas com o passar do tempo e sem conseguirem integrar-se numa empresa, já se mostram disponíveis para enfrentar outros desafios», revela um responsável destas empresas.
Já o Sindicato dos Bancários Sul e Ilhas lembrava, em 2014, que os tempos na banca estavam a mudar. Até essa altura trabalhar no setor bancário, independentemente da instituição, era uma garantia de estabilidade no emprego – quase podia dizer-se que trabalhar num banco era sinónimo de ‘emprego para a vida’. «Os tempos mudaram e por isso também a banca mudou e aquilo que era a precariedade no emprego noutros setores de atividade chegou, infelizmente, à banca», salientou o sindicato, acrescentando ainda que «a chamada reestruturação dos bancos não é mais do que promover o despedimento dos trabalhadores ora recorrendo ao despedimento coletivo, à extinção do posto de trabalho, aos apelidados ‘acordos’ de revogação do contrato de trabalho, às rescisões destes mediante indemnização ou nalguns casos, poucos, à passagem à reforma».