A banca dispensou cerca de sete mil trabalhadores nos últimos cinco anos. A este número será agora preciso somar os mil colaboradores que vão sair do Novo Banco, que poderá ser ainda mais elevado devido à incerteza nos trabalhadores do Banif, que transitaram para o Santander Totta depois de este ter adquirido a instituição financeira.
António Vieira Monteiro, presidente do Santander tem dito que, “em princípio não haverá alterações relativamente à sua situação laboral”, mas também admite que “na vida nunca temos que ser 100% afirmativos em tudo”. O gestor deixou apenas uma garantia: para já, “não está encarada essa situação”.
Perante este cenário mais pessimista de despedimento dos trabalhadores que transitaram para o Santander provenientes do Banif, o Banco de Portugal já veio descartar qualquer tipo de responsabilidade. O órgão regulador lembra que “o cumprimento desses contratos, bem como qualquer eventual modificação dos mesmos, caberá às partes, nos termos da legislação laboral aplicável e de acordo com o estipulado nas relações contratuais aplicáveis, não estando cometidas ao Banco de Portugal competências sobre essa matéria”.
Maior despedimento coletivo
A situação é mais clara no Novo Banco. No ano passado já tinha sido avançada a hipótese do banco liderado por Stock da Cunha em despedir cem mil trabalhadores, mas os números oficiais só foram revelados no final de fevereiro. Inicialmente anunciou um despedimento coletivo que iria abranger 500 colaboradores – o que seria o maior despedimento coletivo alguma fez feito da banca portuguesa. Mas esta sexta-feira o banco recuou e anunciou que vai levar a cabo rescisões por mútuo acordo. No entanto, o número de trabalhadores a dispensar mantém-se.
Esta redução faz parte das metas de reestruturação negociada com Bruxelas e tem como objetivo reduzir os custos operacionais em 150 milhões de euros. Só se as metas de rescisões não forem cumpridas é poderá existir a necessidade de avançar com o despedimento coletivo.
Recorde-se que, no comunicado interno dirigido aos funcionários do banco, no final de fevereiro, a administração reconheceu a “inevitabilidade de redução de colaboradores”, mas destacou que “o esforço que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos meses, nomeadamente por via de reformas antecipadas, irá permitir limitar o esforço de redução de colaboradores ainda por concretizar para um número não superior a 500”.
Uma decisão que chegou a receber o aval da entidade liderada por Carlos Costa. O Banco de Portugal veio a público “sublinhar a capacidade da equipa de gestão e dos colaboradores do Novo Banco em garantir o retorno do banco à normal atividade bancária”, aproveitando para dar a conhecer o seu apoio ao plano de reestruturação.
Para a Comissão Nacional de Trabalhadores a solução para evitar este problema passaria pela nacionalização do banco, considerando que “seria a decisão mais justa e correta”. E vai mais longe: “Não faz sentido qualquer plano de reestruturação, sem uma definição clara do que se pretende para o Novo Banco. Vamos lutar por outra forma de solução e pela suspensão desta medida”.
Uma opinião partilhada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Atividade Financeira (SINTAF), ao afirmar que estava contra qualquer medida que implique despedimentos, lembrando que “não podem ser os trabalhadores a pagar pelos erros dos outros”.
Reestruturações
A verdade é que a redução dos custos operacionais tem sido uma das principais prioridades da banca nos últimos anos, sobretudo na atividade doméstica. Só no ano passado, foram eliminados mais de mil postos de trabalho nos maiores bancos a atuar no mercado nacional.
Só no ano passado o BCP reduziu em 309 colaboradores o seu número de funcionários, para 7459 – abaixo dos 7500 a que o BCP se tinha comprometido no âmbito do plano de reestruturação associado ao empréstimo público do qual falta pagar 750 milhões.
Também o Banco BPI encerrou 52 balcões e diminuiu o quadro de pessoal em 63 pessoas na sua atividade doméstica em 2015, passando a contar com uma rede de distribuição de 597 agências e 5899 trabalhadores em Portugal.
Já a CGD avançou com um processo voluntário de reformas, de forma a acelerar a redução de quadros no banco. Lançada no ano passado, saíram 311 funcionários do quadro de pessoal em 2015. Mas houve mais de mil candidatos a participar no Programa Horizonte. Além dos já afetados, é expectável que continuem a ocorrer novas rescisões nos próximos anos, mas não foram quantificadas.
Estes 311 trabalhadores que aderiram às reformas antecipadas representaram a grande maioria das 448 saídas registadas em 2015.
Para este ano a meta de despedimentos mantém-se. Para já, o BCP assumiu que prevê fechar mais cem sucursais no próximo triénio, o que ditará novos despedimentos.
Também os bancos mais pequenos não ficam alheios a esta tendência. O Montepio é um desses exemplos. Apesar de ter vindo a afastar essa possibilidade, a verdade é que a hipótese da instituição financeira vir a ser obrigada a fechar balcões é cada vez mais certa. O banco tem em mãos um projeto de ajustamento e já encerrou 37 balcões. Ao mesmo tempo, enviou cartas a cerca de 170 colaboradores, com mais de 55 anos e com pelo menos 34 anos de atividade, a propor-lhes a passagem à reforma antecipada.
No entanto o plano não é para ficar por aqui. Dentro da instituição financeira há quem fale no encerramento de cerca de 100 agências e uma redução do número de trabalhadores que poderá atingir entre 800 a mil postos de trabalho.
Esta realidade da banca portuguesa acaba por ir ao encontro da posição defendida por Bruxelas, em 2014, quando admitiu despedimentos nos bancos portugueses que recebessem ajuda do Estado. “Algumas das medidas destinadas a assegurar a viabilidade a longo prazo consistem em reduzir o número de trabalhadores e a dimensão das redes de sucursais, bem como em rever a estratégia e a atividade global”, disse, na altura, o Comissário Europeu para a Concorrência, Joaquim Almunia.
O responsável recordou ainda que, os bancos que beneficiaram de auxílios estatais foram obrigados a apresentar à Comissão planos de restruturação que definam as medidas adotadas para restabelecer a viabilidade a longo prazo sem recorrer novamente ao apoio do Estado.