Estados de Alma

1.Um apelo desesperado. Acabei de ouvir Donald Tusk num apelo desesperado aos refugiados da Síria : “Por favor não venham para a Europa”. Não podia haver uma maior condenação da política de braços abertos anunciada há meses pela Chanceler Angela Merkel. Analisada friamente a política da Chanceler – que eu, como muitos, emotivamente aplaudi -…

2.Brexit. Perdoar-me-ão mais uma nota sobre o referendo de junho. Mas é impossível vivendo no Reino Unido ficar indiferente a um tema que literalmente preenche as primeiras páginas de todos os jornais ou noticiários televisivos. Mas esta obsessão tem razão de ser. Juntamente com a crise dos refugiados, a crise latente da dívida da borda sul do euro e a fragilidade do sistema bancário, é um dos fatores que, numa tempestade perfeita, podem destruir uma união de até há pouco se julgava capaz de durar mil anos. Se hoje tivesse de apostar, apostaria que a 23 de junho os britânicos votarão pela saída da UE. Em primeiro lugar, existe uma tendência identitária de fundo que faz com que os britânicos se vejam diferentes dos (outros) europeus. Eles vêem-se para o Continente como os hobbits do Shire se viam para a Terra-Média. Temem, sobretudo, a imigração em massa: temem pela preservação do seu Shire ou, mais prosaicamente, dos empregos e salários da working class. Temem, também, que a UE esteja a implodir e antecipam que, de fora, possam resistir melhor a essa implosão. O ‘Não’ sente-se, por fim, legitimado pela decisão de não aderir ao euro se ter revelado sábia. Como a proverbial cereja, nos últimos tempos figuras moderadas e respeitadas juntaram-se a um campo povoado, até agora, por radicais alucinados. Falo, sobretudo, de Boris Johnson -Mayor de Londres, biógrafo de Churchill e candidato à liderança Tory -e de Lord Owen -antigo Ministro dos Estrangeiros e líder da cisão do Labour que originou o SPD. Mesmo o circunspecto ex-governador do Banco de Inglaterra, Lord Mervin King, deu uma entrevista ao Telegraph que, nas entrelinhas, pode ser lida como “cética”, ao afirmar que os eleitores deveriam desconfiar dos empresários que agora defendem a permanência pois foram os mesmos que defenderam que o RU devia participar no Euro.

3.O erro do não. Não discuto que a UE possa estar a implodir. O que discuto é que os britânicos consigam estar a salvo dos estilhaços dessa implosão ao abandonarem a União. A história da grande ilha mostra que nunca assim foi. Nas palavras de Gideon Rachman no Financial Times: “Não existe Brexit de uma Europa em crise”.