Depois de Salazar veio Marcelo Caetano, depois de Mário Soares veio Vítor Constâncio, depois de Sá Carneiro veio Balsemão, depois de Cavaco Silva veio Fernando Nogueira. Os sucessores nunca conseguiram ocupar o espaço dos líderes que os antecederam – e acabaram por deixar os partidos órfãos.
Dificilmente isto não acontecerá no CDS. E por isso os sucessores mais óbvios de Paulo Portas, como Nuno Melo, não avançaram. Quem se perfilou foi uma mulher voluntarista, combativa, determinada, mas sem grande densidade política.
Assunção Cristas tem, no entanto, uma coisa a seu favor: é tão diferente de Portas que a comparação se torna impossível. Portas era homem, Cristas é mulher; Portas era solteiro, Cristas é casada e tem filhos; Portas era sibilino e implacável, Cristas é frontal e genuína. Até um pouco ingénua.
Do ponto de vista familiar, Cristas é aquilo que Portas gostaria de ser. Disse-me um dia Maria José Nogueira Pinto: «Paulo Portas, como conservador que é, gostava de usar sobretudo e ter uma família tradicional. É esse um dos seus desgostos».
Assunção Cristas tem essa família tradicional. Mas falta-lhe a malícia que tornava Portas um adversário temível. Não se pode, porém, ter tudo. A simpatia, a simplicidade, a frontalidade de Cristas fazem dela um fenómeno completamente novo na política portuguesa – e por isso é muito difícil dizer até onde irá.