Depois de “Primeiro Fado” (2003), “Encontro” (2006), “Um Copo de Sol” (2009), “Lisboa Mora Aqui – O Melhor de Pedro Moutinho” (2010) e de “O Amor Não Pode Esperar” (2013), Pedro Moutinho acaba de lançar “O Fado em Nós”. E, de repente, percebemos que todos os trabalhos anteriores serviram apenas para nos levar, com ele, até este. Há aqui uma segurança, uma honestidade, uma entrega que refletem a maioridade que atingiu. “Tenho vindo a crescer, como pessoa e como fadista. E tenho essa consciência que tenho vindo a melhorar. Este disco é um resultado da maturidade que tenho vindo a ganhar”.
Muita da maturidade que se pode escutar em “O Fado em Nós” deve-se, segundo Pedro Moutinho, ao facto deste álbum ter sido gravado, não em estúdio, mas no Museu do Fado, um desejo já muito antigo. “Quando se grava um disco fora de estúdio, nas condições em que foi gravado, ao vivo, ainda que sem público, é um acontecimento, como se estivesse em palco. Existe uma liberdade maior porque acaba por não ser tão pensado, tem mais a ver com o momento em que acontece. E o fado tem muito a ver com isso, com o momento em que acontece. Neste disco houve uma liberdade e uma espontaneidade que é mais difícil de conseguir num estúdio de gravação”.
Durante quatro noites, que o fado só acontece quando o sol se põe, Pedro Moutinho gravou os 13 temas que fazem parte deste álbum e que contam com inéditos criados por Amélia Muge, Manuela Freitas, Maria do Rosário Pedreira, mas também clássicos como o “Fado da Contradição” e “Veio a Saudade”, e ainda dois poemas de Fernando Pessoa e de Alexandre O’Neill. Um cruzamento entre passado e presente, tradição e inovação, que permite diferentes leituras, que é, desde o início, o desejo de Pedro Moutinho: que cada pessoa encontre o fado em si. “Até porque, qualquer português, ouvindo fado ou não, tem uma grande identificação com a palavra fado. Como se fosse a identidade de um povo”
Se fado é destino, então o de Pedro Moutinho parecia escrito ainda antes dele saber ler. Os pais, ainda que nunca tivessem optado pelo fado como carreira, sempre cantaram – e ouviram – fado. E os irmãos são Hélder Moutinho e Camané. “O fado começa a fazer parte da minha vida ainda criança porque os meus pais não tinham onde me deixar quando iam aos fados”, recorda. “Eu acompanhava-os e adormecia com a mesa a servir-me de almofada e o fado a embalar-me. Não fui à procura do fado.” Não foi, mas o fado encontrou-o.
Cantou pela primeira vez em público ainda criança, com oito anos, numa “brincadeira” que serviu para perceber que “gostava mesmo daquele momento em que cantava. Era uma forma de me libertar”. Ainda teve uma breve passagem pelos Ministars e pelo Coro de Santo Amaro de Oeiras, mas começou a cantar, cada vez mais regularmente, em casas de fado. Quando regressou da tropa já não restavam dúvidas. “O fado era mesmo a única coisa de que gostava”. Integrou o elenco do Clube de Fado e mais tarde do Café Luso. Nunca mais parou e, em 2003, lança o seu álbum de estreia, “Primeiro Fado”, produzido por Ricardo Dias e Nuno Faria, e que lhe valeu o Prémio Revelação 2003 da Casa da Imprensa.
Ao completar 40 anos, Pedro Moutinho lança finalmente o álbum que o confirma como fadista em nome próprio, livre dos constrangimentos associados a ser irmão mais novo de um dos nomes maiores do fado. “Tenho aprendido muito com a minha família, não só com os meus irmãos, mas também com os meus pais. O meu pai já não está cá, mas aprendi muito com ele. Mas eu sou o Pedro e preciso de dar valor ao que eu faço e às minhas conquistas, sem estar preocupado com o que os meus irmãos fazem e muito menos estar preocupado com comparações. Eu próprio tenho de me valorizar por aquilo que sou e não por ser ‘irmão de’. Acho que tenho vindo a conseguir isso e, ao consegui-lo, sinto-me melhor comigo próprio. Cheguei aqui por mim próprio”, conclui.