Mal saiu a notícia, logo as vozes do costume se levantaram: parece impossível que vão encerrar o Jamaica, o Tokyo e o Europa, três das âncoras do Cais do Sodré! Não consegui evitar questionar-me quando teria sido a última vez que muitas das pessoas que agora protestavam teriam ido a qualquer um daqueles clubes. É um pouco como a história dos jornais. Toda a gente se indigna quando se anuncia um encerramento, mas esquecem-se que os jornais só encerram porque as pessoas não os compram.

Bom, mas adiante, que não é esse o caso. Apesar de não serem os meus espaços de eleição, sempre que visitei qualquer uma destas discotecas, estavam cheias. Ou seja, não é por falta de negócio que fecham portas. Fecham portas porque o edifício – que, diga-se de passagem, há anos que não está em condições – foi vendido. E os novos donos têm o seu projeto, para um hotel temático, dedicado à música – que por acaso até inclui a manutenção de uma das discotecas, neste caso, o Jamaica.

O que é perversamente bom nesta decisão é que ela reabriu uma discussão da qual me parece que nenhum dos habitantes de Lisboa se deve demitir. Qual é a cidade que queremos ter? Qual é a cidade que queremos ajudar a construir? As cidades são, e devem ser, organismos vivos, que se transformam, que se melhoram, que se preparam para o futuro sem apagar o passado. É certo que esse equilíbrio pode ser muito difícil de atingir, mas é fundamental para preservarmos a essência das cidades, aquilo que, no caso de Lisboa, tem conquistado milhares e milhares de turistas. É que não nos enganemos: não há cidade que tenha futuro se apagar o seu passado.