Inês Calheiro foi escolhida entre dezenas de outros jovens profissionais, todos nomeados para um prémio de procura distinguir o top 5 dos mais promissores designers e, desta forma, ajudá-los a atingirem uma carreira internacional. “Foi um enorme reconhecimento do meu trabalho, foi uma experiência única e extremamente gratificante”, disse ao B.I.
Apesar da importância desta distinção, a verdade é que, quase desde a criação da Guava, há cinco anos, que o mercado estrangeiro faz parte do seu trabalho. “Comunicamos e vendemos para todo o mundo, e é isso que fez da marca, uma marca internacional. No entanto temos inúmeros apoiantes em Portugal, que nos dão muita força, o que também me deixa muito orgulhosa. Vendemos essencialmente online – para países como a Bélgica, a Suíça, a Lituânia, a Irlanda, o Dubai e a Arábia Saudita – e também temos alguns pontos de venda, como as galerias Lafayette, no Dubai.” A produção é integralmente feita em São João da Madeira, em Portugal.
Qualquer miúda que se preze viu “Cinderela” quando era pequena e provavelmente, nesse momento, percebeu qual podia ser a importância dos sapatos. Não sabemos se Inês Caleiro viu “Cinderela”, ou se lhe conferiu essa importância, mas ainda era pequena quando começou a deixar-se seduzir por sapatos. “O primeiro par de sapatos que me marcou foi o meu primeiro par de sapatilhas de pontas, aos cinco anos. Enquanto criança tinha fascínio por ballet e praticava diariamente, esse momento de poder calçar umas sapatilhas de ponta marcou a realização de um sonho de infância”, recorda.
Sempre se sentiu fascinada por moda e isso levou-a a estudar Design, no IADE, tendo depois rumado a Londres para se especializar em Moda e Produto, na London College of Fashion. Aqui, não apenas venceu o Best Student Award, como descobriu uma vocação: “A paixão por sapatos foi surgindo muito naturalmente no meu percurso; quase inconscientemente. Sempre tive um enorme interesse por acessórios, e obviamente os sapatos faziam parte desse fascínio, mas o calçado começou a revelar-se mais profundamente no meu percurso, especialmente, quando a tutora da minha pós-graduação em Londres me desafiou para um projeto de fim de curso, que se revelou ser o início do meu sonho. O design para mim é global e universal, sem fronteiras nem barreiras e a fusão do meu background de designer gráfica e produto, com design de moda, é sem duvida uma prova disso mesmo. Acredito que essa fusão me permite ter uma visão mais aberta do design.”
Este projeto de fim de curso valeu-lhe um convite para estagiar com Jimmy Choo, um dos nomes maiores do design de sapatos e para sempre associado a Carrie Bradshaw, em “O Sexo e a Cidade”. Foi nesta altura, tinha 22 anos, que recebeu um par de sapatos Jimmy Choo, o primeiro. Um momento que se revelou mais marcante do que poderia imaginar: “Foi como deixar de ser adolescente e transformar-me numa mulher – foi um enorme passo para a minha carreira profissional.”
Após o estágio, rumou a Washington, onde colaborou com a marca de design de móveis Boca do Lobo, mas, em simultâneo, começou a dar forma à Guava, marca que rouba o nome ao fruto preferido da designer, a goiaba.
Em 2011, Inês Caleiro dava a conhecer a primeira coleção da Guava. Com o título Archi.TEC, e inspirada na arquitetura, valeu-lhe a nomeação para os Fashion Awards Portugal 2011. “Aos 27 anos, quando tive nas minhas mãos o primeiro par de sapatos Guava, foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes para mim, foi o início da realização de um sonho.”
Atualmente, Inês Caleiro apresenta duas coleções por ano, com cerca de 40 modelos cada. Apesar do crescimento da marca e do reconhecimento internacional que os seus sapatos têm recebido, a designer não rejeita a possibilidade de vir a alargar a sua marca para além do calçado. Mas não será para já. Para já, Inês Caleiro prepara-se para dar a conhecer as propostas para a Primavera/ Verão 2016. Seguramente os saltos, desenhados a regra e esquadro como se da coluna de um edifício se tratasse, voltarão a marcar presença.