Lena Dunham. O meu corpo é meu

      

Já não reconheço o meu próprio corpo. E isso é um problema”, desabafou Lena Dunham, depois de ver, uma vez mais, as suas fotografias sujeitas a tratamentos de imagem que a emagrecem consideravelmente, desta feita numa publicação espanhola. Esta não foi a primeira vez que a atriz e argumentista, criadora da série “Girls”, se pronunciou sobre o seu corpo e a forma como a indústria de Hollywood não permite silhuetas um quilo acima da perfeição. Esta é, aliás, uma causa que tem abraçado. Mas não é a única.

Jennifer Lawrence também já falou várias vezes sobre este assunto e sobre como se sente frequentemente julgada pelo seu corpo. E, mais recentemente, Kate Winslet aproveitou a vitória nos Bafta, onde foi distinguida com o galardão para melhor atriz secundária pelo desempenho em “Steve Jobs”, para responder a todos os que criticavam as suas voluptuosas curvas: “Quando era mais nova, por volta dos 14 anos, uma professora de representação disse-me que talvez me saísse bem, se estivesse disposta a contentar-me com os papéis para as raparigas gordas. Sempre que venço um prémio penso nisto e espero que todas as mulheres a quem um professor, um amigo, um pai, uma mãe, alguém, alguma vez deitou abaixo, espero que não liguem a isso. Foi o que fiz. Continuei em frente e ultrapassei os meus medos e insegurança”, disse a atriz de 40 anos.

A questão não é nova e Lena Dunham tem sido uma espécie de embaixadora do assunto, diluindo as fronteiras entre realidade e ficção, ao transportar para a série que criou, “Girls”, e a personagem que interpreta, Hannah Horvath, muitos dos temas que a assolam no dia-a-dia.

Reconhecida como uma das feministas dos tempos modernos, na semana passada Lena Dunham voltou à carga, na sequência da capa que protagonizou para a revista espanhola “Tentaciones”. Depois de se ter queixado do uso de Photoshop, a publicação esclareceu prontamente que não recorre a tratamento de imagem, apenas teve de adaptar a foto ao seu formato e daí a sensação de que a imagem tinha sido retocada. “É uma sensação estranha ver uma foto e já não saber se é o nosso corpo. Não estou a culpar ninguém (quer dizer, exceto a sociedade, em geral)”, escreveu, numa mensagem em que aceitava a explicação da revista.

Ainda assim, Dunham aproveitou o momento para divulgar, através da sua newsletter, um texto intitulado “Retouched by an angel” (retocada por um anjo) – acompanhado por uma sequência de fotos provocadoras -, porque, para a atriz, é altura de abordar este assunto com frontalidade. Assumindo que sempre teve uma relação complicada com o seu corpo, a Dunham confessa que esta foi piorando à medida que se foi tornando mais bem sucedida e percebeu que, quanto mais sucesso tinha, mais corrigiam o seu corpo imperfeito. “Quando comecei a ser fotografada por profissionais, para promover o meu trabalho, nunca me ocorreu questionar o uso de Photoshop. Tinha 24 anos e o que quer que fosse que usavam para tornar as mulheres mais desejáveis, eu também queria. Quando via a minha pele quase parecer uma pintura e o meu nariz fino e arrebitado, sentia-me grata por saber que seria essa a imagem que iriam encontrar numa pesquisa no Google”, assumiu, ao mesmo tempo que recordou a controversa capa que fez para a revista “Vogue”, em 2014, e pela qual foi acusada de não praticar aquilo que, à data, já advogava.

Mas os anos passaram, Lena Dunham já não é a miúda no início de carreira, mas antes uma vencedora de Emmys. E, tal como a sua personagem Hannah, à medida que se aproxima dos 30 anos (e do fim anunciado da série “Girls”), são cada vez mais as certezas do que as dúvidas nestes assuntos. E a maior das certezas, é que não tem vergonha do seu corpo. E portanto não o quer esconder. “Estou farta de permitir que sejam publicadas imagens em que o meu corpo e o meu rosto foram retocados. Se isto significar que não farei mais capas de revista, que assim seja. Este corpo é o único que tenho. Adoro-o pelo que me foi dado. Detesto-o pelo que me foi recusado. E acima de tudo, quero poder identificar a minha própria anca.”