2.Contudo, julgamos que será uma missão hercúlea: a dinâmica de vitória criada por Donald Trump tenderá a gerar uma crescente onda de apoio a este candidato, reforçando a maioria dos delegados que levará à Convenção Nacional do GOP. Até porque os estados que se seguirão no processo das primárias tendem a ser favoráveis ao bilionário nova-iorquino: mesmo no Missouri, em que se antecipava que Trump teria um resultado entre o desastroso e o sofrível devido ao conservadorismo do eleitorado neste estado, o candidato republicano mais bem posicionado resistiu, perdendo por uma escassa margem contra Ted Cruz (o candidato do Tea Party).
3.E, mesmo que Donald Trump não obtenha a maioria de 1237 delegados antes da Convenção Republicana de Julho, ficará certamente muito perto desse resultado. O que significa que os cenários de surgimento de um terceiro candidato, escolhido pelo establishment do Partido Republicano (que já foi Mitt Romney, passando agora para Paul Ryan – o speaker do Congresso, o qual já veio negar a disponibilidade para a aceitação da nomeação) não passam de veleidades: neste cenário, a discussão política seria dominada exclusivamente pela falta de legitimidade política efectiva do candidato do Partido Republicano. Ao invés de se promover o confronto das propostas políticas de Hillary Clinton e do candidato republicano para o futuro da nação americana – os cidadãos americanos assistiriam a uma interminável querela de Ciência Política e Direito Constitucional sobre as “golpadas” do aparelho partidário contra a vontade do povo. O Partido Republicano teria uma derrota certa. E humilhante.
4.A escolha do Partido Republicano é, pois, muito simples: ou, por muitas objecções que tenha, tolera a nomeação do candidato mais votado nas primárias, com uma maioria muito próxima do limite mínimo de delegados necessário para conquistar a nomeação; ou, então, se impuser um outro candidato, através de manobras políticas de bastidores, arrisca-se a entrar numa crise profunda. A crise de confiança que existe entre os eleitores do GOP e os seus dirigente e “elites” seria acentuada com consequências catastróficas. Para o partido e para o equilíbrio político nos Estados Unidos da América. Em vez de um Donald Trump (que, apesar de tudo, não é tão mau, nem tão diabólico como se tem propalado), teríamos, no futuro, vários Donalds Trumps (e bem piores!). Para além de que recusar ostensivamente a nomeação de Trump, seria gerar, escusadamente, uma nova causa de agitação social e descontentamento popular.
5.A arrogância dos partidos e dos dirigentes partidários explica, em larga medida, a irrupção de populismos. Combatê-los com a mesma atitude que está na sua origem – parece-nos, simplesmente, estúpido. Para todos aqueles que temem a Presidência de Donald Trump, resta uma solução: rezar pela vitória de Hillary Clinton. E Deus não tem que ser particularmente generoso: basta manter a normalidade das coisas políticas…