Quatro meses de intenso combate que não livraram a Bélgica de viver o seu próprio 13 de novembro

Dezenas de operações policiais foram realizadas no reino belga desde o dia em que se soube que os ataques de Paris eram da responsabilidade de uma célula terrorista com base em Bruxelas. Vários suspeitos foram detidos, fábricas de explosivos desmanteladas, novos ataques evitados. A capital chegou até a ser ‘encerrada’ para evitar um drama que…

Quatro meses de intenso combate que não livraram a Bélgica de viver o seu próprio 13 de novembro

14/11/2015

Identificado o ninho

Poucas horas passaram desde a matança de Paris, na noite de 13 de novembro, à primeira operação das forças antiterrorismo belgas no bairro bruxelense de Molenbeek. Na manhã de sábado, 14, foram realizados três raides no bairro mais islâmico de Bruxelas, com a justificação de procura de pistas relacionadas com os ataques da véspera. “Para já não há provas de envolvimento da Bélgica”, dizia ainda durante a manhã o ministro do Interior, Jan Jambon. Ao final do dia era o ministro da Justiça, Koen Geens, a confirmar que as buscas se justificavam com a localização de um veículo de matrícula belga junto ao Bataclan, sala de concertos parisiense onde faleceram 89 pessoas: “Foram realizadas várias detenções relacionadas com o veículo e com as pessoas que o alugaram”, disse Geens antes de acrescentar que várias significava “mais do que uma”.

16/11/2015

Abdeslam, o irmão

Com a identificação da maioria dos responsáveis pela matança, mortos durante os ataques, chegou também a confirmação de que tudo teria sido planeado em Molenbeek, bairro já bem conhecido das autoridades belgas – onde, por exemplo, residia o responsável pelo ataque ao Museu Judaico de Bruxelas, em maio de 2014.

Na manhã de segunda-feira, 16, as forças especiais da polícia belga voltaram ao ninho. Nenhum suspeito foi detido nesse dia, mas só aí as autoridades revelaram que na sexta-feira anterior tinham sido sete as detenções. Mohammed Abdeslam, irmão do único terrorista envolvido que conseguiu voltar à Bélgica depois da matança, já havia sido libertado, tal como quatro dos outros detidos.

17/11/2015

Raide em Saint Dennis, Paris

A polícia francesa também segue as suas pistas e encontra outro ninho de terroristas no subúrbio parisiense de Saint Dennis. Numa operação violenta – uma mulher residente na casa revistada fez-se explodir durante a operação – deu-se a primeira baixa relevante desta célula terrorista: Abdelhamid Abaaoud, belga de ascendência marroquina identificado como o cérebro dos ataques, foi uma das três vítimas mortais de um raide que deixou cinco polícias feridos e levou à detenção de outras cinco pessoas. Segundo informações então divulgadas pelas autoridades francesas, esta célula preparava um novo ataque, desta feita no coração financeiro da capital gaulesa, La Defense.

19/11/2015

Bairro de Jette junta-se a Molenbeek

Com novas informações vindas de Paris, seis novos raides em Bruxelas, divididos entre os bairros de Molenbeek e de Jette. A informação divulgada indicava que as operações se centravam com a “entourage” de Bilal Hafdi, um francês residente na Bélgica, de 20 anos, que havia sido identificado como uma dos três bombistas suicidas que atacaram no Estádio de França durante a realização de um particular entre as seleções de futebol de França e Alemanha.

23/11/2015

Bruxelas “encerrada” por quatro dias

Nova ida a Molenbeek, já com a preocupação de encontrar Salah Abdeslam, o único sobrevivente entre os atacantes de Paris. Sem sucesso no objetivo principal, a polícia belga faz mais 16 detenções no bairro, incluindo a de um suspeito que foi atingido a tiro enquanto estava em fuga. A certeza de que Abdeslam se escondia na cidade levou as autoridades a ordenar o ‘encerramento’ da capital: escolas, lojas e transportes públicos foram encerrados durante quatro dias, entre 21 e 25 de novembro, devido aos receios de um ataque iminente em Bruxelas.

26/11/2015

Para lá de Bruxelas

A pequena vila de Sambreville, situada a mais de 80 quilómetros a sul de Bruxelas, viu a sua pacatez interrompida pela chegada de uma equipa de operações especiais da polícia belga. Coube ao então desconhecido autarca Jean-Charles Luperto explicar que o raide tinha como objetivo a procura de provas materiais relacionadas com o ataque de Paris e não a detenção de qualquer suspeito.

02/12/2015

À procura de Mohamed Abrini

Mais cinco residências são alvo de buscas em Bruxelas, com a explicação desta vez relacionada com a procura de Mohamed Abrini. Era a última peça que faltava identificar dos três ocupantes de um dos veículos usados durante os ataques – Salah Abdeslam continuava em fuga e Ahmed Dahmani tinha sido detido, na véspera, na Turquia. Dois suspeitos foram levados para interrogatório mas nenhum deles ficou detido. Abrini conseguiu escapar e ontem, antes da polícia divulgar as imagens dos suspeitos, era tido como um dos prováveis autores da matança de Bruxelas.

10/12/2015

Salah Abdeslam encontrado, em impressão digital

As buscas num apartamento em Schaerbeek, Bruxelas, levam a polícia belga a descobrir o que chamou de “provável fábrica dos explosivos usados em Paris”. Três cintos explosivos, equipamento de fabrico de bombas e vestígios de triperóxido de triacetona – elemento comum neste tipo de engenhos – levam à conclusão, assim como a descoberta da impressão digital de Salah Abdeslam encontrada no local. 

24/12/2015

Ligação a Paris leva à nona detenção

Os belgas fazem a nona detenção diretamente ligada aos ataques de Paris – outras dezenas de suspeitos foram detidos para interrogatório mas acabaram sem ser alvo de qualquer acusação. Abdoullah C é a identificação anunciada para o homem que tinha entrado em contacto com o primo do ‘cérebro’ Abdelhamid Abaaoud nos dias imediatamente seguintes à matança de Paris.

16/01/2016

Dois mortos e ataque evitado em Verviers

Dois suspeitos são abatidos em raides policiais na cidade de Verviers, no leste do país. Um outro homem é detido na operação, que a polícia diz ter sido focada num grupo acabado de regressar da Síria e que se preparava para realizar um ataque “numa questão de horas”. “Os suspeitos abriram fogo de imediato e o tiroteio durou vários minutos”, explicou o procurador Van Der Sypt. Quatro kalashnikovs e material de fabrico de explosivos são também apreendidos nesta ação policial.

27/12/2015

Evitado ataque de ano novo

Em raides sucessivos a 27 e 28 de dezembro, as autoridades belgas dizem ter prevenido um ataque planeado para as festividades de Ano Novo. Equipamento militar e computadores recheados de propaganda do Estado Islâmico são apreendidos nas cidades de Liége e Brabant. Quatro pessoas foram detidas nestas operações, mas só duas delas acabaram por ser formalmente acusadas.

15/03/2016

Argelino abatido em nova busca por Abdeslam

Após alguma aparente acalmia, os raides voltam a Bruxelas, desta vez no até então pacífico bairro de Forest. Um argelino é abatido pela polícia numa operação que leva a nova identificação de impressão digital de Salah Abdeslam. Além de armas, as autoridades encontram no local uma bandeira do Estado Islâmico.

18/03/2016

Salah Abdeslam capturado

127 dias depois de ter conseguido fugir de Paris, Salah Abdeslam é finalmente encurralado em Molenbeek. Perante os avisos da polícia para sair de braços no ar, o homem mais procurado da Europa resiste e acaba atingido numa perna antes de ser finalmente detido. Nas horas seguintes confirma o que todos suspeitavam: participou nos ataques de Paris, onde a sua missão era suicidar-se no Estádio de França, como três dos seus companheiros, mas o arrependimento falou mais alto. “Descobrimos muitas armas, armas pesadas, e uma nova rede de pessoas à volta dele em Bruxelas”, relatou o ministro belga dos Negócios Estrangeiros.

nuno.e.lima@sol.pt