2. Ecos de um passado longíquo. Há muito que o sinto – e outros provavelmente já o notaram –, mas foi um artigo de Edward Luce no Financial Times do passado dia 14 (Troubling warnings from the 1930’s) que veio conferir consistência a esse sentimento. Pensemos na prolongada crise económica, no desemprego de longa duração, na fragilidade do sistema financeiro ou na crescente revolta contra as desigualdade na distribuição de rendimento. Pensemos no pessimismo geracional ou no conflito de gerações. Pensemos no reforço da extrema esquerda anti-mercado e anti-democracia na América Latina, na Espanha, em Portugal e na Grécia. Pensemos nos regimes ‘musculados’ que surgem na Rússia, Hungria ou Turquia (e em como apelam ao eleitorado republicano à presidência nos EUA). Pensemos no recrudescimento populismo iliberal, isolacionista, anti-comércio-livre, anti-emigração e xenófobo, que faz o seu caminho na América, no Reino Unido, na França, na Alemanha, na Hungria, na Polónia ou na Eslováquia. Sei bem que a situação é muito diversa daquela que se viveu (sobretudo na Europa) há um século. Mas não posso deixar de sentir que nós, os democratas liberais, nos sentimos de novo acossados.
3. «Beggar thy neighbour». A expressão inglesa é universalmente usada para caracterizar as políticas económicas em que uma país tenta estimular a sua economia à custa dos ‘vizinhos’. O exemplo típico é uma desvalorização cambial, que procura desviar a procura global para a produção de um país em desfavor dos produtores concorrentes de outros países, como num jogo de soma nula. É óbvio que esta política apenas pode trazer resultados transitórios e que é ultimamente autodestrutiva. A política monetária da generalidade dos bancos centrais –taxas de juro negativas e quantitative easing – é para muitos o equivalente modernos daquelas políticas. Com o crédito bancário ‘entupido’, o principal canal pelo qual os estímulos monetários impactam as economias é promovendo a desvalorização cambial. Mas, tal como aconteceu com as chamadas ‘desvalorizações competitivas’, esta estratégia não é robusta. Foi este ponto que o governador Carney do Banco de Inglaterra fez no último encontro dos G20. Mas, como o vice governador Constâncio do BCE notou esta semana, não há muito mais que os bancos centrais possam fazer. O resto, depende dos governos e não dos governadores.