Cuba e EUA mais perto de uma reconciliação histórica

Depois de décadas de hostilidades, os Estados Unidos e Cuba deram início à reaproximação em dezembro de 2014. Mas ainda há muito a fazer para restabelecer totalmente as relações.

Cuba e EUA mais perto de uma reconciliação histórica

Quão longe Cuba está dos Estados Unidos? Em termos geográficos separam estes dois países mais do que dois mil quilómetros. Já as relações entre os dois países estão mais perto do que nunca de melhorar. Arelação deteriorou-se com o triunfo da Revolução Cubana e a chegada de Fidel Castro ao poder em 1959, início de um regime de caráter socialista, que enfraqueceu as relações em 1961. Mas agora é diferente. 

A histórica visita do presidente americano, Barack Obama, a Cuba ficará certamente marcada como um passo histórico para o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países que, pouco  a pouco, vem acontecendo desde 2014, quando os líderes dos Estados Unidos e Cuba anunciaram o início das negociações para a normalização das relações bilateriais. 

Só no ano seguinte, em 2015, os dois países restabeleceram as relações diplomáticas, ao fim de 50 anos de interrupção. O anúncio de que os dois países retomaram relações foi feito em dezembro passado. 

Desde esse anúncio da reaproximação, já foram tomadas medidas para restabelecer relações. No verão de 2015, a embaixada americana em Cuba foi reaberta e, pouco depois, foram retiradas as restrições para as viagens dos cidadãos americanos a Cuba. E as mudanças não se ficaram por aqui. Cuba saiu também nesse ano oficialmente da lista de países terroristas elaborada pelos Estados Unidos. O país fazia parte da lista desde 1982.

Apesar da histórica reapróximação, há ainda muito por resolver, como por exemplo, o embargo económico imposto pelos Estados Unidos a Cuba em 1962. Durante a visita – e mesmo antes – Barack Obama mostrou interese em acabar com o embargo. Contudo, é uma decisão que não depende apenas de si, tendo de ser aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos, que já demonstrou algumas vezes não o querer fazer.

A vontade de Obama em melhorar as relações foi explícita em todas os discursos que proferiu em Cuba durante os dois dias de visita, mas garantiu, ainda assim, que será um processo lento. «A relação não será transformada do dia para a noite, ainda temos muitas diferenças. Isso não será decidido pelos Estados Unidos ou por qualquer outro país. O futuro de Cuba será decidido pelos cubanos e por mais ninguém», disse Obama. 

Para Raul Castro, presidente cubano, o fim do embargo é também um desejo. «Se for levantado o embargo, podemos fazer mais», avançou Castro depois de, durante a visita, ter apelado a Obama pelo fim do embargo. Para o líder cubano, «o embargo é o maior impedimento» ao desenvolvimento das relações entre Havana e Washington.
A visita de Obama representou também um marco histórico por ter sido a primeira visita oficial de um presidente americano ao país em 88 anos. A últimas vez que aconteceu foi em 1928, quando o presidente era Calvin Coolidge.
Guantánamo

A eterna questão de divisão entre os dois países: a prisão de Guantánamo. Obama quer fechar a prisão – já o tentou imensas vezes –  e o líder cubano quer que os Estados Unidos devolvam o território da prisão a Cuba, «ilegalmente ocupado», como diz Raul Castro. Mas mais uma vez, o problema está no Congresso, de maioria republicana, que não o quer fazer. E, neste caso, nem Obama o quer. Apesar de em fevereiro passado ter apresentado mais uma proposta para fechar a prisão, Obama avançou que a devolução do território estaria fora de questão. O fecho da prisão é uma das primeiras promessas eleitorais feitas pelo presidente americano em 2008. 

A prisão de Guantánamo é usada pelos Estados Unidos para prender suspeitos de terrorismo.

Direitos humanos

Mais um ponto de discórdia. Os Estados Unidos quererem ver melhorias no aspeto dos direitos humanos. Por seu lado, os cubanos acham que são os Estados Unidos que devem reconhecer a sua forma «popular e participativa». Durante a visita a Cuba, Obama não deixou de parte esse aspeto. E a visita deu bons frutos: ambos prometeram falar sobre esse aspeto. «Depois de quase cinco décadas de relação difícil, Cuba e Estados Unidos têm ainda sérias diferenças como acontece com o tema dos direitos humanos e a democracia, assuntos sobre os quais tivemos conversas muito francas e sinceras», avançou Obama. «Vamos trabalhar para que todos respeitem todos os direitos», disse ainda Castro. «Devemos aprender a arte de coexistir com as nossas diferenças de maneira civilizada», acrescentou.

Nem Obama nem Castro deixaram de referir o Papa Francisco pelo que fez pelos dois países, destacando o «paciente trabalho de mediação» do Pontífice, que contribuiu de modo «decisivo» para reaproximar os dois países.

E depois de Obama?

A aproximação entre os dois países é realmente um grande passo. Mas há um fator importante a relembrar: em 2017 Obama deixará o poder. Sendo quase garantido que até lá não conseguirá atingir o principal objetivo – o fim do embargo comercial –, a prioridade deve ser tornar o processo de reaproximação suficientemente irreversível ao ponto de não permitir uma revogação total ao seu sucessor. Especialmente se este for republicano, pois até os descendentes de cubanos, como Ted Cruz e Marco Rubio, mostram a intenção de voltar a isolar o regime castrista.