O terrorismo é a pior espécie de cobardia

   

Se há coisa que não queria fazer era, apenas quatro meses depois dos ataques terroristas em Paris, estar aqui outra vez a escrever sobre terrorismo. Não queria, não porque estivesse preocupada em repetir-me, mas porque isso significaria que nada teria acontecido que o justificasse. Ponderei não o fazer, não dar eco a estas pessoas para quem o estilo de vida ocidental representa uma afronta tão grande que justifica a morte indiscriminada de inocentes. Mas a consciência não mo permitiu. Aliás, para ser totalmente correta, até já o deveria ter feito antes, se tiver em conta que, desde 13 de novembro, noite em que morreram 130 pessoas e mais de 350 ficaram feridas em Paris, já foram inúmeros os ataques terroristas. Nigéria, Costa do Marfim, Tunísia, Burkina Faso, Iraque, Líbano. Todos vítimas do terrorismo. Sim, deveria ter escrito antes. Não escrevi, mea culpa, escrevo agora.

Há cerca de uma semana, Salah Abdeslam foi detido no bairro de Molenbeek, em Bruxelas. A ideia de que, ainda que meses depois, o cérebro dos ataques de Paris tinha sido detido, que as forças policiais não tinham desistido de encontrar os culpados, devolveu alguma esperança aos europeus. Mas o que se passou dias depois fez exatamente o oposto, deixando-nos a questionar se será possível que estas células terroristas tenham capacidade de programar ataques destas dimensões em poucos dias ou se, pelo contrário, os ataques em Bruxelas já estavam planeados há muito – o que significa que continuamos sem capacidade de nos anteciparmos a estes criminosos.

E sim, não há outra forma de o dizer: um terrorista é um criminoso. É, aliás, um criminoso da pior espécie. Um criminoso do medo, do silêncio, um cobarde. O terrorismo é a pior espécie de cobardia. E como explicamos às nossas crianças o que se passa de forma a que compreendam mas não cresçam no ódio? Sobretudo, como o fazemos quando, todos nós, no nosso âmago, já nos questionamos se poderá haver um fim para tudo isto que não passe pelo ódio generalizado?

Crónica originalmente publicada na edição em papel do B.I. de 26/03/2016