«Conseguimos aceder com sucesso à informação guardada no iPhone de [Syed] Farrok», avançou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. «Não precisamos mais da ajuda da Apple», avançou ainda.
A Justiça americana libertou a marca da obrigação de ajudar o FBI a desbloquear o aparelho. A audiência que devia ter decorrido no passado dia 22 de março foi suspensa depois de o FBI ter anunciado que os seus esforços para desbloquear o telemóvel foram bem sucedidos, revelando que teve ajuda externa.
A guerra começou há cerca de seis semanas, quando o FBI avançou que era necessário aceder ao telemóvel do terrorista para conseguir obter informações relevantes para a investigação do crime. O caso passou-se em dezembro quando um casal, simpatizante do grupo terrorista Estado Islâmico, matou a tiro 14 pessoas em San Bernardino, na Califórnia.
Nessa altura, os investigadores encontraram os telemóveis de dois suspeitos e um deles pertencia à Apple. A marca californiana, porém, recusou-se sempre a colaborar com as autoridades, alegando tratar-se de uma questão de confiança com os clientes.
Ajuda externa
Logo após o FBI ter confirmado que teria desbloqueado o iPhone, surgiram as dúvidas de como o teria feito. Suspeita-se que para tal tenha contado com a ajuda dos japoneses da Cellebrite, que costuma trabalhar com várias empresas de segurança em casos muito semelhantes a este.
Ainda assim, nem o FBI nem a empresa confirmaram a colaboração. O FBI não quis identificar como nem quem ajudou a obter o acesso à informação e, segundo a assessoria de imprensa daquele organismo estatal, tal nunca será revelado.
Já a Cellebrite – que tem escritórios espalhados um pouco por todo o mundo, incluindo os Estados Unidos – avançou esta semana à BBC que trabalha regularmente com o FBI, nunca revelando, no entanto, se colaborou ou não neste caso.
A Apple já se mostrou interessada em saber quem ajudou o FBI mas sabe que é quase impossível conseguir essa informação.
Para Jerónimo García, diretor da consultoria de serviços informáticos Sidertia Soluções, é «muito difícil» que alguma vez o FBI divulgue o método, uma vez que «é muito provável que o utilizem noutros casos».
Há, porem, quem não acredite que a empresa tenha conseguido aceder à chave para desbloquear o aparelho. «É possível mas pouco provável que eles tenham conseguido desencriptar e encriptar [o sistema operativo]», avançava esta semana à BBC, David Gibson, vice-presidente de Estratégia e Desenvolvimento de Mercado da Varonis Systems, uma empresa que se dedica a proteger dados informáticos. «O mais provável é que tenha sido um ataque de software».
O problema da Apple em ajudar a desbloquear o aparelho é apenas um: a chamada ‘chave mestra’ pode ser usada em qualquer dispositivo. Ou seja, conseguindo desbloquear um iPhone, facilmente se desbloqueia qualquer outro dispositivo da marca. «O Governo sugere que esta ferramenta de acesso possa ser usada apenas uma vez, apenas neste telefone. Mas isso não é verdade. Uma vez criada, a técnica poderia ser usada uma e outra vez, em qualquer número de aparelhos», avisou o CEO da marca, Tim Cook.
Outro telemóvel
Depois de toda a disputa para que o FBI conseguisse desbloquear o iPhone do terrorista de San Bernardino, a guerra entre a Apple e o FBI pode voltar.
Desta vez, o órgão governamental vai ajudar as autoridades do estado do Arkansas, nos EUA, a desbloquearem um aparelho da marca. O telefone que ainda não foi desbloqueado pode conter pistas relevantes sobre um homicídio na cidade de Conway.
O caso envolve quatro jovens que foram acusados de assaltar uma casa e matar o casal que lá residia. O crime remonta a julho do ano passado. Nessa altura, os investigadores encontraram os telemóveis de dois suspeitos e um deles pertencia à Apple.
Caso o FBI consiga realmente desbloquear este aparelho, ficará oficialmente provado que o consegue fazer sem qualquer ajuda da marca em questão.
O ato do FBI já tomou outros contornos. Esta semana, um italiano pediu à marca que desbloqueasse o telemóvel do filho, que morreu em setembro passado vítima de cancro. O homem avança querer guardar as fotos que o filho tinha como recordação. A Apple ainda não se pronunciou sobre o assunto mas o homem garante que, caso a marca não aceda ao seu pedido, vai pedir ajuda ao FBI. «Não me tirem a possibilidade de guardar as recordações do meu filho», apelou, garantindo que a criança de 13 anos iria querer que o pai tivesse acesso às fotografias.
O italiano revelou ter enviado um email para Tim Cook, o CEO da Apple e já avançou estar preparado para enviar outro não só para o FBI como também para a Cellebrite, a empresa que poderá ter ajudado o FBI a desbloquear outro aparelho.