O seu discurso de abertura do Congresso teve como novidade o reconhecimento da legitimidade da actual maioria governativa – e a assunção de que não haverá eleições a breve trecho. Foi um discurso mais de balanço do que de afirmação política. E cumpriu muito bem esta sua função.
2. Quanto ao segundo dia do Congresso, nada de substancial. Afinal, os críticos não estão assim tão críticos. São críticos muito fofinhos para Pedro Passos Coelho. José Eduardo Martins foi o mais duro e assertivo – porém, apareceu no Congresso visivelmente cansado, contido (alguma timidez e pouco conforto com o desafio cara a cara?) e com um discurso muito atabalhoado para quem quer protagonizar a alternativa à liderança actual.
2.1. Pedro Duarte foi apenas “picar o ponto”,isto é, marcar presença para dizer que tem ambições no partido – e capitalizar a popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa, que lhe ofereceu o presente útil de ser seu director de campanha. Nuno Morais Sarmento nem sequer teve a coragem de aparecer (o que prova que joga no mesmo carrinho de Rui Rio). E Paulo Rangel fez um discurso simplesmente à Paulo Rangel. Pedro Passos Coelho deve ter soltado muitas gargalhadas de felicidade ao ouvir esta liga de honra da oposição interna.
3. Hoje, teve lugar o momento porque tanto esperávamos: o discurso de encerramento de Pedro Passos Coelho. O que dizer do discurso?
Primeiro: discurso claramente acima das nossas melhores expectativas. De um político que, não obstante ter vencido as eleições e ter perdido o Governo, não está ressabiado – e já olha para o futuro. Definiu os vectores estratégicos da sua oposição: 1) economia e finanças; 2) defesa da família e dos direitos das crianças; 3) segurança social; 4) reforma do sistema político. Sempre no quadro da integração europeia – convicta, sem hesitações. Sem reservas – Passos Coelho é, pois, o rosto do pensamento europeísta – com laivos de federalista, embora o próprio negue (será influência de Paulo Rangel?).
Segundo: Passos Coelho demarcou-se bem de António Costa, ao explicar as vantagens para Portugal da opção de reembolso antecipado ao FMI. A solução de financiamento do país nos mercados seria bem mais vantajosos para os portugueses, actuais e futuros. O que marca uma diferença política muito importante com a geringonça de António Costa. E entalou o PS mais irresponsável que já equaciona propor, junto da União Europeia, a reestruturação da dívida: colando Portugal ao Syriza e à Grécia. Na nossa opinião, foi o ponto alto do discurso de Pedro Passos Coelho.
Terceiro: Passos Coelho revelou disponibilidade para trabalhar com o PS na definição de uma solução para o problema da sustentabilidade da Segurança Social. Esta posição politicamente é duplamente acertada: i) vai de encontro a um dos desafios mais prementes para o nosso futuro colectivo; ii) faz com que os apelos do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa encontrem eco no discurso de Passos Coelho, intrometendo-se o líder do PSD no dito namoro entre o Presidente e António Costa. Isto para além de, ao definir as fronteiras mínimas desse diálogo, Passos Coelho revelar iniciativa política susceptível de condicionar o Primeiro-Ministro.
4. Tudo isto dito e ponderado, revela um Pedro Passos Coelho que já aceitou a sua nova posição política – e plenamente concertado no futuro. Contudo, persistem dois problemas. Que se prendem, no essencial, com um excessivo calculismo político e com discurso excessivamente professoral ou analítico.
Primeiro, com um excessivo calculismo político. Passos Coelho diz que não acredita na realização de eleições no imediato ou a curto prazo – contudo, na verdade, Passos Coelho dedica uma parte substancial do seu discurso a explicar o seu processo de gestão da dívida e a falar de questões orçamentais. Ou seja: o seu grande tema é precisamente aquele que poderá vir a precipitar a queda do Governo António Costa, a curto/médio prazo.
E, em relação às restantes matérias, Passos Coelho afirmou que há um problema – mas não avançou com nenhuma solução. Porquê? Porque não lhe convém – numa lógica de gestão eleitoral – desgastar-se com propostas concretas, talvez polémicas.
Segundo, um discurso excessivamente analítico. Passos diagnostica demasiado; caindo muitas vezes num pessimismo existencial que é comum em analistas políticos – como Medina Carreira – , embora raro e pouco prudente em políticos. Porque os políticos- sobretudo, os reformistas como Passos Coelho – têm de transmitir aos portugueses uma ideia de esperança quanto ao seu futuro. Uma ideia de esperança quanto ao mérito das propostas políticas que lhes são apresentadas. Não basta dizer que o PSD no poder será menos mau que o PS e a extrema-esquerda – é preciso mostrar que o PSD é mesmo bom a Governar Portugal. Que fará de Portugal um país com mais oportunidades, mais próspero, mais justo.
5. Essa foi (é) a grande falha de Pedro Passos Coelho: falta alma ao discurso. Falta alma ao partido. Enfim, uma das frases mais brilhantes do Congresso foi a de Simão Ribeiro, líder da JSD, que iniciou o discurso com um: “ bom dia PSD, toca a acordar, que bem precisamos!”. É isso mesmo: toca a acordar, PSD! Que já é preciso.
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