Os jornais e as cidades devem viver juntos

    

É a primeira vez que escrevo este texto na nova sede dos jornais i e Sol. Depois de cerca de um ano em Linda-a-Pastora regressamos a Lisboa. Aliás, regressamos, não. Regressa o Sol, que durante perto de nove anos viveu no Chiado. Já o i, desde a sua fundação, esteve sempre fora da capital, primeiro no Taguspark e depois na já referida terra de Cesário Verde. O leitor pode estar a questionar-se porque é que isto é importante. Mas é. Os jornais são peças fundamentais do normal funcionamento de um país, de uma cidade, de uma capital. E estiveram sempre, em Portugal e no mundo, nos centros nevrálgicos das cidades, ajudando a construí-los e a dinamizá-los. Durante anos, foi o Bairro Alto a casa dos jornais em Portugal. E eram os jornalistas que ali levavam vida quando a noite caía e impunha o silêncio. Eram os jornalistas que saíam das redações, depois do fecho de cada edição, e ainda se juntavam para matar a fome, beber uns copos, falar da vida e amainar o stress. Até as gráficas estavam nos centros das cidades. É certo que os jornais mudaram muito, infelizmente perderam peso na sociedade, para muitos deixaram de ser essenciais e, como tudo o que não é essencial, foram sendo empurrados para as cinturas das cidades, quase como poeira varrida para debaixo do tapete. Aconteceu em Portugal e aconteceu em muitos outros países. Mas isto não reflete apenas as mudanças nos jornais, e também as mudanças nas próprias cidades. Metrópoles como Lisboa são hoje mais dos que por cá passam do que daqueles que por cá queriam viver e trabalhar.

Voltando aos jornais, agora daqui do Beato, entre o Poço do Bispo e Xabregas. Este regresso a Lisboa é também importante porque, além de nos devolver à cidade e de nos devolver a cidade, o faz num bairro em efervescência, onde há centros criativos ao virar de cada esquina, onde as ideias surgem em catadupa. Fazer jornalismo é viver, é estar atento à vida. E para isto temos de estar rodeados de vida. Para que nos contamine.